Os novos arranjos e modelos familiares simbolizam o avanço na luta por direitos da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, questioning, intergênero, assexual, pansexual e polissexual, aliados e outras denominações, mais conhecidos pela sigla LGBTQIAP+.
A aprovação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2010, que tornou legal o processo de adoção conjunta de crianças e adolescentes por casais homoafetivos, foi mais um degrau e uma possibilidade para a realização do sonho do cabeleireiro Léo Moura, de 35 anos. Ele, que há pouco mais de cinco anos, teve a paternidade ressignificada a partir da chegada do seu filho.
“Ele chegou em uma sexta-feira, véspera do dias dos pais, então foi muito legal. Hoje dividimos, teoms uma guara compartilhada flexívelum, é muito tranquilo”. Foi assim que Léo, junto ao seu ex-companheiro, realizaram o sonho de serem pais.
O “soteropaulistano”, como se identifica Léo, há 15 anos decidiu traçar a vida na capital baiana e, nesse caminho, construiu uma trajetória marcada por encontros e desafios. Junto ao seu ex-companheiro, o especialista em cabelo divide a paternidade do pequeno Otávio, que tem pouco mais de cinco anos.
Em conversa com o Portal Salvador FM, o profissional de cabelos contou sobre os desafios de exercer a paternidade. “A paternidade não tem uma bula, não tem fórmula. Ajustamos conforme vamos vivendo, no dia a dia”, contou Leandro sobre os desafios.
A chegada de seu filho Otávio representou, não somente uma vitória na Justiça do reconhecimento da dupla paternidade, mas, também, a materialização do casamento homoafetivo, que completou mais de 11 anos de reconhecimento pelo STF. A vinda de Otávio simbolizou o início de uma caminhada contra o preconceito.
“Descobrimos recentemente que Otávio é autista e estamos aprendendo a lidar com esse desafio. Ele nos surpreende a cada dia. Ele terá que aprender a lidar contra os preconceitos, sobre os pais e agora com o autismo. Temos que preparar ele para a vida e espero conseguir”, disse o cabeleireiro.
Sobre a dupla paternidade, Leandro contou que são muitos os desafios e há também muita curiosidade das pessoas em saber como funciona a relação da criança com dois pais e, para ele, não tem como confundir, já que não existe “certo ou errado”. “Ele vive em uma estrutura que é completa, ele é feliz aqui. Não existe estranheza”, afirmou.
Léo ainda relatou que recentemente o filho o surpreendeu. Era apenas uma brincadeira de criança, quando o pequeno Otávio montava uma família com seus galos de borracha e disparou: “não tem mãe, são todos papais”. Para o cabeleireiro, que sentiu-se surpreso “ele deu uma aula, me quebrou no meio. Nós que acabamos impondo isso, ele sempre nos dando aula, são todos papais. Ele sempre fala que tem dois pais”, contou.
“Quando há algum questionamento, ele está entrando nesse momento, mas é natural, não forçamos tocar no assunto. A resposta certa é quando há pergunta. Não tenho que entrar em nenhum assunto se não gerou nenhuma pergunta. A resposta é a mais natural e a mais tranquila para que ele não sinta estranheza. A estranheza pode vir de pessoas que não convivem ou que não estão habituadas”, disse.
Preconceito
Próximo ao período em que o STF tornou legal a união estável homoafetiva, o Ibope realizou uma pesquisa que constatou que 55% da população brasileira ainda era contra a decisão. De lá pra cá, os movimentos sociais tornaram-se cada vez mais fortes, mas, ainda assim, há pessoas que discordam do direito à adoção por homoafetivos no país. Sobre isso, o profissional relatou que diretamente nunca vivenciou alguma situação, mas disse sentir a estranheza das pessoas quando perguntam se ele tem filho e, em seguida, quem é a mãe.
“Explico que não é ela, é ele. E sim, é uma guarda compartilhada, e que nos damos bem, normalmente é interesse. Quando há uma pergunta com outro cunho, não tem espaço. Não tem mais espaço para esse tipo de preconceito, quando sinto maldade. Não cabe”, finalizou.
Sobre o processo de adoção, Léo disse que a demora é proporcional ao tamanho do significado para a vida dele.“Ele não olha sua sexualidade, sua classe social, ele olha a sua capacidade de incluir e inserir aquele indivíduo na sociedade junto com você. Depois que vi o processo de adoção, eu entendi o porquê. O quanto isso é importante, é uma coisa para vida. Para quem quer, quer mesmo, é o melhor sentimento, é a coisa que mais amo e não tem explicação”.