Política

Governo gasta R$ 26 milhões com kits de robótica para escolas sem água e computador

Unidades escolares sofrem de deficiências de infraestrutura básica

Reprodução
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O governo federal destinou R$ 26 milhões de recursos do Ministério da Educação (MEC) para a compra de kits de robótica para escolas com estrutura precária. Localizadas no interior de Alagoas, as unidades escolares sofrem de deficiências de infraestrutura básica, a exemplo de falta de computadores e de internet, ausência de água encanada e algumas sequer têm salas de aula.

De acordo com apuração da Folha de S. Paulo, todos os municípios têm contratos firmados com a Megalic, empresa de aliados de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e responsável pela distribuição do chamado “orçamento secreto”, de onde saiu a verba para a compra do material.

Ainda segundo a publicação, cada kit foi adquirido pelas prefeituras por R$ 14 mil, valor muito superior ao praticado no mercado. Em uma das unidades escolares visitadas pela reportagem, a escola rural Almirante Benjamim Sodré, no povoado de Cova do Casado, em Canapi (AL), alunos de séries diferentes precisam estudar na mesma sala e falta água encanada. No local, funcionários usam baldes para dar descarga nos banheiros.

Em entrevista à Folha, a coordenadora da escola Rosiane Maria Silva da Paz, afirmou que o anúncio do kit de robótica animou os professores, mas disse que há muitas outras prioridades. “Sobre a questão da água, ter na torneira facilitaria mais, além de ter mais salas e manter a internet. A pintura também seria importante, estou com fé em Deus que sairá a reforma”, diz ela, que já foi aluna da escola. “Ainda precisa reformar o pátio porque é de terra e a gente não deixa os meninos correrem no terreno, que tem muita pedra”, acrescentou.

Além de ignorar prioridades, outra característica atípica foi a rapidez para a liberação dos recursos federais para a compra dos kits de robótica. Segundo o jornal, em quatro casos os empenhos foram realizados em dezembro e nos outros entre agosto e outubro, e a liberação da verba saiu entre fevereiro e março. O tempo contrasta com outras cidades, a exemplo de Aporá, na Bahia, que desde fevereiro de 2020 aguarda a liberação de parcela de R$ 7,9 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para finalizar uma obra de creche e pré-escola.

Tal discrepância, segundo a publicação, é mais um exemplo da “falta de critérios técnicos e do domínio do apadrinhamento político na definição da liberação de verbas do MEC na gestão Jair Bolsonaro (PL)”. Além deste caso, o MEC também é centro de escândalo, após o ex-ministro Milton Ribeiro admitir priorizar pastores na liberação de recursos da pasta a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Questionados pela reportagem, MEC e FNDE não responderam. Lira, por sua vez, disse não ter envolvimento com a contratação de empresas pelos municípios, que não solicitou rapidez na liberação do orçamento e que os processos obedecem critérios técnicos do FNDE.