A doença grave pela Covid-19 está associada a um aumento no risco de efeitos adversos para a saúde mental a longo prazo. O alerta é de um estudo publicado no periódico científico The Lancet Public Health nesta segunda-feira (14). De acordo com o estudo, pacientes acamados por sete dias ou mais apresentaram taxas mais altas de depressão e ansiedade em comparação com pessoas que foram diagnosticadas com Covid-19 mas não passaram pela internação. As informações são da CNN Brasil.
Os resultados também sugerem que, em geral, os pacientes não hospitalizados foram menos propensos a apresentar sintomas depressivos e de ansiedade até 16 meses após o diagnóstico em comparação com aqueles que nunca foram infectados pelo novo coronavírus.
A análise indicou que os sintomas de depressão e ansiedade diminuíram em cerca de dois meses para pacientes não hospitalizados. No entanto, os pacientes que ficaram acamados por sete dias ou mais permaneceram em risco aumentado de depressão e ansiedade durante o período de estudo, que contemplou 16 meses.
Uma das pesquisas, publicada na Lancet, apontou 53 milhões de novos casos de depressão e 76 milhões de ansiedade em 2020. Em outro artigo, especialistas da Comissão da Associação Psiquiátrica Mundial da Lancet fizeram um alerta de que o mundo não está conseguindo lidar com a persistente e cada vez mais séria crise global de depressão.
Em um estudo brasileiro, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) observaram uma alta prevalência de déficits cognitivos e transtornos psiquiátricos na análise de 425 pacientes que se recuperaram das formas moderada e grave da Covid-19.
Neste novo estudo, os pesquisadores estimaram os impactos de longo prazo da infecção pelo SARS-CoV-2 para a saúde mental. Para isso, analisaram a prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e angústia relacionada à Covid-19 e má qualidade do sono entre pessoas com e sem o diagnóstico da doença, por até 16 meses.
A análise utilizou dados de sete grupos populacionais, da Dinamarca, Estônia, Islândia, Noruega, Suécia e Reino Unido. Das 247.249 pessoas incluídas, 9.979 (4%) foram diagnosticadas com Covid-19 entre fevereiro de 2020 e agosto de 2021. Foram adotados como indicadores do diagnóstico teste moleculares (RT PCR) positivos e autorrelatos de anticorpos positivos confirmados.
No geral, os participantes diagnosticados com Covid-19 apresentaram maior prevalência de depressão e pior qualidade do sono em comparação com indivíduos que nunca foram diagnosticados. Os índices foram de 20,2% contra 11,3%, em relação aos sintomas de depressão, e de 29,4% contra 23,8% sobre a má qualidade do sono. Os dados são equivalentes a um aumento de 18% e 13% na prevalência, respectivamente
Segundo o estudo, não houve diferenças gerais entre participantes com ou sem Covid-19 nas taxas de ansiedade ou angústia relacionada à doença.
Pessoas diagnosticadas com Covid-19, mas nunca acamadas devido à doença, foram menos propensas a apresentar sintomas de depressão e ansiedade do que aquelas não diagnosticadas. Segundo os pesquisadores, uma possível explicação para isso é que o retorno à vida normal tende a representar um alívio para esses indivíduos. Enquanto isso, aqueles ainda não infectados permanecem ansiosos com o risco de infecção e sobrecarregados pelo isolamento social.
Melhora dos sintomas
A análise mostra uma redução com o tempo de alguns sintomas de saúde mental, como depressão e angústia relacionada à Covid-19.
Por outro lado, a maior duração da internação foi associada a uma maior prevalência de efeitos na saúde mental. Ao longo de 16 meses, os pacientes que ficaram acamados por sete dias ou mais continuaram a ter de 50 a 60% mais chances de apresentar maior depressão e ansiedade em comparação com pessoas que nunca foram infectadas, durante o período do estudo.
“Isso sugere que os efeitos na saúde mental não são iguais para todos os pacientes com Covid-19 e que o tempo passado acamado é um fator-chave para determinar a gravidade dos impactos na saúde mental“, disse a autora do estudo Unnur Anna Valdimarsdóttir, professora da Universidade da Islândia, em um comunicado.
A pesquisadora defende o aumento da vigilância clínica de saúde mental entre pacientes com doença grave e a realização de estudos de acompanhamento além do primeiro ano após as infecções.
De acordo com o estudo, a recuperação mais rápida dos sintomas físicos pode explicar em parte por que os sintomas de saúde mental diminuem a uma taxa semelhante para aqueles com uma infecção leve. No entanto, pacientes com Covid-19 grave geralmente apresentam um processo de inflamação que já foi associado a efeitos crônicos na saúde mental, particularmente depressão.
O pesquisador da Universidade da Islândia, Ingibjörg Magnúsdóttir, coautor do estudo, afirma que a maior ocorrência de depressão e ansiedade entre pacientes acamados pode ser devido a “uma combinação de preocupação com os efeitos à saúde a longo prazo, como bem como a persistência de sintomas físicos longos de Covid muito além da doença que limita o contato social e pode resultar em uma sensação de desamparo”.
Segundo ele, da mesma forma, respostas inflamatórias entre pacientes com diagnóstico grave podem contribuir para sintomas de saúde mental mais persistentes. “Por outro lado, o fato de indivíduos com uma infecção leve por Covid-19 poderem retornar à vida normal mais cedo e experimentar apenas uma infecção benigna provavelmente contribui para o menor risco de efeitos negativos à saúde mental que observamos”, completa Magnúsdóttir, em um comunicado.
Os autores apontam limitações nos resultados encontrados devido à própria configuração do estudo. Indivíduos diagnosticados com Covid-19 eram ligeiramente mais propensos a ter diagnósticos anteriores de transtornos psiquiátricos do que indivíduos sem diagnóstico da doença.
A maior parte do grupo utilizado para comparação respondeu entre abril e junho de 2020, já as respostas dos pacientes foram acumuladas entre abril de 2020 e agosto de 2021, o que pode ter levado graus diferentes de incerteza sobre a pandemia e influenciado o relato de sintomas. Além disso, as pessoas diagnosticadas com Covid-19 eram, em média, mais jovens do que as não diagnosticadas, indicando que alguns pacientes mais velhos podem ter sido vítimas da doença.