Bahia

Aluna da rede estadual denuncia omissão de escola após sofrer intolerância religiosa

Segundo relato da estudante, a perseguição começou ainda em 2019, a suposta agressora, que é evangélica, quebrou o celular da aluna que é adepta do Candomblé

Claudionor Jr./Ascom
Claudionor Jr./Ascom

Uma aluna do ensino médio do Colégio Estadual do Ypiranga, no bairro Dois de Julho, em Salvador, denunciou ao Portal Salvador FM a omissão da direção da escola, após reclamar, repetidamente, de ser alvo de intolerância religiosa por outra estudante.

Segundo relato da estudante, a perseguição começou ainda em 2019. Em um dos episódios, a suposta agressora, que é evangélica, quebrou o celular da aluna que é adepta do Candomblé. O caso mais recente ocorreu na última quarta-feira (9), quando a vítima diz que a aluna ameaçou arrancar seus "fiozinhos", em referência às guias que usava – dizendo que não tinham serventia – e o seu Ojá de Yawo, uma espécie de turbante branco.

"Ela disse que eu tinha que adorar a Deus, não ao Satanás. Eu fiquei revoltada e falei para ela vir tirar. Ela simplesmente saiu dando risada", relatou a jovem, identificada como D.B.M, estudante do 1° Ano do Ensino Médio do colégio da rede estadual.

A situação, segundo a aluna, foi levada aos professores de Geografia, Física e Química, e, em seguida, à diretora da escola. A resposta foi de que nada poderia ser feito sem provas.

Com a informação, a aluna, do terreiro Ilê Asé Ojise Olodumaré, localizado na região metropolitana da cidade, decidiu tentar filmar as ofensas com o celular, mas foi repreendida pelos professores que alertaram que era proibido gravar a imagens de outras pessoas sem autorização.

Ela relata que os docentes a ameaçaram de suspensão se continuasse filmando.

Apesar dos avisos, a jovem conseguiu gravar parte da conversa com dois professores da escola que tratam da situação da gravação e do caso de intolerância.

Medidas judiciais
Inconformada, a mãe da vítima, que preferiu não se identificar, se negou a voltar à escola e disse que levará a situação à Justiça comum. À reportagem, ela informou que já está sendo acompanhada por um advogado e que adotará as medidas cabíveis para lidar com o caso.

"A aluna é evangélica e já vem há muito tempo criando situações referentes à religião da minha filha, recém yaô feita. Fez ameaças de partir as guias, puxar o ojá da cabeça, rasgar as vestes brancas", disse ela. 

Em outras oportunidades, ela conversou com a mãe da outra aluna, que se comprometeu em convencê-la a parar com as agressões, mas nada aconteceu. Para piorar, segundo a mãe da vítima, não vê empenho na escola para resolver o impasse, e diz que a estudante que vem proferindo as ofensas chegou a pedir a expulsão da filha da instituição.

"A escola não se posiciona e diz que nada pode fazer. Minha filha foi novamente acuada, assediada, ameaçaram tomar o celular e tomaram, para não fazer nenhuma gravação e utilizar como prova. Virou graça hoje um filho de santo ser ameaçado e nada ser feito, pelo simples fato de estar cumprindo resguardo, de branco. A aluna está exigindo a expulsão da minha filha da escola somente por isso", lamentou.

Medo de retaliação
Desde a última agressão, D.B.M tem evitado ir para o colégio, com medo de retaliação. A suposta agressora mora perto da instituição, no bairro Dois de Julho, e a jovem teme que o caso se repita, desta vez, fora do ambiente escolar.

Em resposta ao portal, a Secretaria de Educação informou que "a direção da unidade escolar informa que já convidou as famílias das estudantes para o esclarecimento dos fatos".

Segundo a pasta, a instituição "ressalta que realiza ações pedagógicas de prevenção e combate a todo tipo de preconceito e discriminação, bem como de fomento e respeito à diversidade e à tolerância religiosa.