Política

Vereador desiste de projeto para mudar nome do Abaeté

Durante a sessão, grupos religiosos e lideranças políticas se uniram em um ebó coletivo organizado pela Frente Nacional Makota Valdina, em frente à Câmara Municipal

Vagner Souza/Salvador FM
Vagner Souza/Salvador FM

Após protestos dos povos de santo de religiões de matriz africana de Salvador, o vereador Isnard Araújo retirou nesta terça-feira (15) o projeto de lei para mudar o nome das dunas do Abaeté, no bairro de Itapuã, para "Monte Santo Deus Proverá".

Durante a sessão, grupos religiosos e lideranças políticas se uniram em um ebó coletivo organizado pela Frente Nacional Makota Valdina, em frente à Câmara Municipal. A confirmação da retirada da proposta de pauta foi feita pela vereadora Maria Marighella (PT), em conversa com o Portal Salvador FM.

"Ele acabou de retirar o projeto e fez uma declaração. É uma vitória para os movimentos que estão aqui na porta, os grupos de terreiro, ativistas. O vereador tirar esse PL responde a um anseio da população e reconhecemos como uma vitória muito grande", disse a petista.

A região das dunas e lagoa do Abaeté são tradicionalmente habitadas e cultuadas por povos de santo, do candomblé e umbanda. Nos últimos anos, entretando, cresceu exponencialmente a peregrinação de evangélicos no local, que costumam subir as dunas e orarem em conjunto. A prática gerou uma espécia de disputa simbólica pelo local e praticantes de religiões de matriz africana relatam sofrer com perseguição de neopentecostais que costumam intervir nos seus cultos e manifestações.

Paralelamente ao projeto no legislativo, a Prefeitura de Salvador lançou no último dia 10 um projeto de urbanização no Abaeté, no local conhecido pelos evangélicos como Monte Santo. A expectativa é construir no local escadas ecológicas, um auditório e banheiros para os fiéis. O evento foi marcado pelos protestos dos povos de santo e ambientalistas.

Questionado, o prefeito Bruno Reis (DEM) garantiu que o projeto não iria passar pelo plenário e lembrou que o Parque Metropolitano do Abaeté é administrado pelo Governo da Bahia, portanto, seria impossível alterar o seu nome por um PL municipal.

Marighella anunciou ainda que a oposição entrou com representação no Ministério Público (MP), com a assinatura dos movimentos sociais, para contestar a legitimidade da obra e investigar o "interesse público" com a intervenção.

A vereadora diz que o território é um local alvo de disputas e ligado à especulação imobiliária, e que acompanha de perto a obra proposta pela Prefeitura, pois ela pode estar "aliado" ao projeto de descaracterização da região.

"Alguns terrenos de Itapuã, Stella Maris, estão sob ameaça de ir para leilão e entendemos que há no local uma tática de desterritorializar para ocupar, dividir para ocupar. Entendemos que, por trás deste projeto de requalificação, podem estar ligados interesses outros que merecem atenção", alerta a edil.

"Devemos ter atenção para preservar o Abaeté, a sua história e a memória", complementa.