Sim, repito, só um desabafo. Não esperam, portanto, um artigo nem mesmo uma
crônica… somente um desabafo.
Não terá sequer uma ordem, de nenhuma ordem… Somente regurgitarei palavras, ou
melhor, sentimentos…
Sentimentos, sim, e primeiramente, às pobres vítimas da Boate Kiss, ainda que
inimaginável a dor de seus amigos e familiares. Mas sobre isso não preciso me alongar,
pois, os motivos, as razões, são facilmente entendíveis por todos.
São 22:58h e só quero dormir. Só quero tentar dormir. Não sei se conseguirei. Invademe um sentimento de tristeza. De extrema tristeza. Imagine… Como dizer, depois de
mais de duas décadas dedicadas exclusivamente ao Direito e à Docência que estou
arrependido de ter escolhido o Direito?! Que não ficarei feliz se meu filho disser que
quer seguir a carreira do pai?! Como assim?!
Podem pensar que foram muitas as minhas frustrações. Mas não foram. Foram muito
poucas, em verdade. Não o digo como elogio em boca própria, pois seria vitupério.
Mas sim (talvez) fruto da tentativa voraz de não aventurar-me com o Direito e, por
conseguinte, dentro das possibilidades, escolher as causas pelas quais lutar.
Seguramente isso diminui as derrotas e, por conseguinte, as frustrações.
Mas hoje foi diferente. Hoje foi um dia marcante. Como marcante foi, porém em muito
menor intensidade (e só digo isto não por que a dor naquele dia foi menor, mas é que
esta de hoje parece doer mais…), o dia da condenação dos 4 (quatro) pronunciados da
Boate Kiss.
Repita-se, frise-se, ressalte-se, que guardo todos e mais sinceros sentimentos às vítimas
e, por corolário, aos familiares das vítimas da Boate Kiss. Certamente eu não superaria.
Mas não ajuda em nada e a ninguém o que foi feito e, principalmente, o que fez hoje o
Ministro Fux.
Hoje, esta apunhalada, sem misericórdia, não em mim, mas no Direito, na Constituição
da República, deixará cicatrizes perenes.
Por óbvio que guardo diversas “considerações” acerca de nossa Corte Suprema,
contudo, certamente, por razões diversas daquelas manifestadas pela (maioria da)
população. Mas este é outro assunto.
Hoje foi demais… Sequer entrarei no mérito desta decisão, já por demais discutida nas
redes sociais por pessoas com capacidade técnica enormemente superior à minha,
seguramente.
Hoje só quero dizer que estou triste. Arrasado. Enojado ao ver um “Juiz” decidir “de
acordo” com a opinião pública, em sua grande e massacrante maioria.
Mas não é por que é grande, não é por que é massacrante, que é certa. Talvez muito
pelo contrário, pois, oriunda, originária, de uma grande, massacrante, maioria de
pessoas que nunca, nem por um dia sequer alisaram os bancos de uma Faculdade de
Direito. A estes, portanto, sem pedir-me, é dado o perdão.
Não comparo, reitere-se, por óbvio, esta tristeza que me invade com a dos familiares,
mas dói muito também. Uma dor inexplicável. Dor daquelas a quem não se sabe a
quem socorrer, ainda que tenha que ter socorro! Uma dor (quase) paralisante.
Quase, pois, são nestes momentos que nos fazemos advogados, que falamos por
aqueles a quem nos deram o poder de representa-los, àqueles que nos deram o poder
de falar por eles.
O Direito (Penal) morreu hoje.
Mas que possa ressuscitar…