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Navio Negreiro nos Dias Atuais: com produção de Jordan Vilas Boas, o espetáculo acontece neste sábado (20)

Fotógrafo, escritor e produtor, Jordan conversou com o LDNotícias sobre o racismo na atualidade

Rodrigo Portela / LDNotícias
Rodrigo Portela / LDNotícias

Conhecido por seu forte trabalho como escritor, fotógrafo e produtor cultural, o soteropolitano Jordan Vilas Boas começou a sua carreira aos 11 anos de idade. Ele é o produtor do espetáculo “Navio negreiro nos dias atuais”, que acontecerá neste sábado (20), Dia da Consciência Negra, a partir das 15h20, na praça da Cruz Caída, Pelourinho.  Em entrevista ao LDNotícias, Jordan contou sobre este trabalho, projetos futuros e compartilhou um pouco da sua história na arte.

“O espetáculo retrata que nada mudou. Tudo o que a gente passava antigamente, estamos passando de maneiras diferentes, mas continua sendo racismo”, contou sobre espetáculo realizado pela Focus Moda e Produção.

A Focus se localiza na Rua do Passo, Pelourinho e conta com aulas de moda, teatro, oficinas de música e dança, voltadas para a população negra soteropolitana. “Pode chegar para fazer a inscrição, porque a gente vai estar recebendo de braços abertos todo mundo”, convidou o artista.

Além desse trabalho, com 23 anos, Jordan acumula uma grande bagagem textual. Entre as suas diversas obras é possível notar a frequência e intensidade em que ele aborda os temas voltados para a temática negra, sobretudo o racismo. “Eu quero chegar em um momento em que a gente não precise mais falar sobre isso. Eu como poeta, já não sei mais como explicar em poesia o que nós sofremos, porque não é algo que se renova, é todo ano a mesma coisa. Se eu utilizasse textos meus de 2015, por exemplo, serviria hoje também. É muito triste você olhar para trás e ver que nada mudou ainda. A gente precisa procurar métodos de que isso seja um pouco mais agressivo, não no sentido violento, mas no sentido em que a gente chegue com mais veemência na casa das pessoas”, desabafou.

Com a sua entrada prematura no mundo textual,  Jordan explica o que o motivou a escrever para a população negra. “Eu nunca escolhi. Quando você nasce negro, eu acho que você tem a obrigação. Eu não podia ver tudo isso acontecendo e me isentar da palavra, eu precisava falar, porque se eu não falasse, eu ia me sentir incomodado o tempo todo. É algo que aconteceu automaticamente, a partir do momento em que eu precisava falar da minha autoestima, da autoestima de quem estava do meu lado. Eu comecei a escrever muito novo por conta da autoestima, eu precisava de referência naquela época. Então eu fiz de mim, a minha própria referência e hoje, graças a Deus, eu vejo que muitas pessoas negras estouraram”, comemorou.

Apesar do avanço progressivo, o escritor tem esperança de que, em um futuro próximo, a situação melhore. “Recentemente tivemos uma professora que foi indiciada por se colocar na sala de aula. Você olha isso e fica imaginando o que vem pela frente. Eu fico muito triste em relação a isso e eu espero de verdade que, nos próximos anos, com tudo o que está acontecendo, a gente tenha uma melhora”.

Além das fotos e da escrita, Jordan também utiliza da produção para fortalecer a autoestima negra. “Todas as minhas modelos são modelos negras, todas as produções que eu faço com marcas, eu convido mulheres negras para estarem fazendo também, porque eu acho que é uma forma de fazer com que elas se enxerguem também como um padrão, o nosso padrão de beleza. Eu tento sempre que possível, abordar essas questões dentro da minha arte”.

O trabalho de Jordan ganhará um próximo capítulo no início de 2022, com o lançamento do seu livro “Coração sobre humano”, com previsão de lançamento para fevereiro. A obra reunirá poemas do escritor desde 2011. “Nele eu falo sobre autoestima negra, sobre amor, sobre o nosso sofrimento, de uma maneira mais convidativa para a gente refletir um pouco sobre isso. Como bom capricorniano, eu estou enrolando há muito tempo pra lançar, porque eu quero tudo muito perfeito”, brincou.