O ex-ministro da Defesa e Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que os últimos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica deixaram seus cargos, em março, por respeito à Constituição Federal e por não cederem às pressões políticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"Os três foram demitidos porque se recusaram a envolver as Forças Armadas nas declarações e nos atos do presidente da República", revelou o ex-ministro do ex-presidente Michel Temer em entrevista à revista Veja. "Ele (Bolsonaro) chamou um comandante militar e perguntou se os caças Gripen estavam operacionais. Com a resposta positiva, determinou que sobrevoassem o STF acima da velocidade do som para estourar os vidros do prédio. Bolsonaro mandou fazer isso, tenho um depoimento em relação a isso. Ao confrontá-lo com o absurdo de ações desse tipo, eles foram demitidos", afirmou.
Jungmann demonstrou preocupação com as tentativas do presidente de colocar as Forças Armadas contra outras instituições democráticas, como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. "Existe uma constante atuação de constrangimento por parte do presidente da República, para forçar as Forças Armadas a endossar os atos e as falas dele", destacou.
O ex-ministro afirmou que existe uma visão bastante crítica a respeito do Supremo Tribunal Federal (STF). "Os militares têm uma leitura de que o STF não está deixando o presidente Bolsonaro governar", falou. Segundo ele, também há leitura equivocada de que o STF destruiu a Operação Lava Jato. "É algo preocupante", reforçou.
Sobre às eleições de 2022, Jungmann disse que podem ocorrer problemas durante a disputa. "Existem riscos. A campanha de Bolsonaro para desmoralizar o voto eletrônico envolve, no fundo, retirar credibilidade do Tribunal Superior Eleitoral. Não tem nenhuma força política a favor disso, muito pelo contrário. Seria um raio em céu azul", afirmou.