Política

Diretor da Odebrecht combinava respostas com assessor de Lula

A análise das mensagens encontradas no celular do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, mostra que ele discutia diretamente com o assessor de imprensa do Instituto Lula

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A análise das mensagens encontradas no celular do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, mostra que ele discutia diretamente com o assessor de imprensa do Instituto Lula como reagir a reportagens sobre a relação do ex-presidente com a Odebrecht. De acordo com os textos, ele também desejava que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deixasse o cargo, e recebia mensagens apreensivas da família, temendo sua prisão.

O laudo foi incluído pela Polícia Federal na tarde de sexta-feira no processo onde a empreiteira é acusada de corrupção relacionada a contratos obtidos na Petrobras. Citado por três delatores da Lava-Jato como responsável pelo pagamento de propinas em nome da empresa, Alexandrino foi libertado em outubro depois de passar quatro meses preso, em Curitiba. Ele nega as acusações.

Os textos apreendidos no telefone do então diretor evidenciam que ele era avisado pelo assessor de imprensa do Instituto Lula sobre matérias que estavam sendo produzidas sobre a relação do ex-presidente com a Odebrecht. O assessor sugeria o tom das repostas da empreiteira a reportagens e debatia com Alexandrino estratégias de reação.

Em 12 de abril deste ano, o GLOBO mostrou que Alexandrino acompanhou Lula em périplo por três países em viagem financiada pela Odebrecht, para realizar uma palestra e compromissos que não tinham relação com as atividades da empresa. A mesma matéria revelou que Alexandrino mantinha contatos telefônicos com Alberto Youssef, operador de lavagem de dinheiro e pagamento de propina para a Odebrecht.

Cinco dias antes da publicação da reportagem, minutos depois de ser procurado pelo GLOBO para esclarecer o relacionamento de Lula com Alexandrino, o assessor avisou o diretor da construtora sobre a reportagem.

“O GLOBO está atrás de você também. Viagem de Cuba. 2013. Abraço. Sabem que você estava lá”, escreveu.

Depois que a matéria foi publicada, o assessor de Lula escreveu a Alexandrino que gostaria de ver a "proposta de resposta" da Odebrecht à matéria, antes da divulgação pela empresa.

“Eu iria, com sangue frio e elegância, na jugular da matéria – título e lead, e desdobrando as mentiras dela”, escreveu o assessor, que pediu ajuda ao diretor da Odebrecht para fazer a nota “circular na internet”.

Os dois também conversam sobre reportagem da revista “Época”, publicada nas semanas seguintes, noticiando a abertura de investigação pelo Ministério Público Federal sobre a suspeita de tráfico influência de Lula em nome da Odebrecht.

“Mandei no seu e-mail nossa reposta”, escreveu o assessor do ex-presidente a Alexandrino, dias antes da publicação da matéria.

“Gostei muito, parabéns”, respondeu o diretor investigado.

“REAÇÃO MUITO FORTE E DURA”

Depois que o texto saiu, o assessor de Lula reclamou do texto publicado pela revista.

“Se deixarem essa loucura crescer, acaba qualquer crédito à exportação. Vocês, as associações, têm que ir pra cima”, escreveu.

“Tem que ter reação muito forte e dura. Muito”, reforçou o assessor.

“Vai ter”, respondeu Alexandrino.

Em mensagens posteriores, no dia 2 de maio, o assessor reclama da publicação de repercussão da investigação do MPF no jornal “The New York Times” e na “TV Record”.

“Não vamos deixar barato”, afirma o assessor do Instituto, que diz trabalhar para evitar que o “The Wall Street Journal” publicasse textos sobre o tema.

“Dá pra segurar WSJ (referência ao ‘The Wall Street’) e Bloomberg?”, escreveu Alexandrino.

“Acho que só WSJ”, recebeu como resposta. Dois meses depois, com a confirmação da investigação sobre o ex-presidente, o “The Wall Street Journal” acabaria publicando matéria sobre o tema.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Odebrecht informou que “a defesa de Alexandrino Alencar lamenta o vazamento de diálogos de cunho estritamente pessoal” que, no entendimento dos advogados, “nada têm a ver com a investigação em curso pelo MPF”. O Instituto Lula informou que não comentaria o assunto.

Foto: Ilustração