O juiz Sérgio Humberto de Quadros Sampaio usava um analfabeto como laranja para receber vantagens ilícitas dos membros da organização criminosa investigada na Operação Faroeste.
O juiz baiano está preso desde novembro de 2019, por determinação do ministro Og Fernandes. Em dezembro de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) pediu a prisão preventiva de Ronilson Pires, apontado naquela ocasião como operador do magistrado.
Segundo as investigações do MPF, o juiz utilizava contas bancárias em nome do operador para impedir o rastreio “da lucrativa tarefa criminosa de venda de decisões”. Em diálogos interceptados pelo órgão, se ouviu o juiz pedir que os valores fossem depositados na conta de Ronilson, o qual teve cartão apreendido na busca e apreensão realizada pela Polícia Federal.
A quebra de sigilo bancário revelou que Ronilson recebeu R$ 1,2 milhão em transferências bancárias das contas de outros dois investigados: Ricardo Augusto Tres e Walter Yukio Horita.
Durante a realização da Operação Faroeste no dia 14 de dezembro do ano passado, foi descoberto que Ronilson não passa de “um pobre laranja, utilizado na escalada criminosa” do juiz Sérgio Humberto, juntamente, com Gilcy de Castro Dourado Junior, para “dissimular a origem das vantagens indevidas percebidas”.
Na operação, se descobriu que Ronilson reside em uma casa muito humilde, com apenas dois quartos, uma sala e uma cozinha, com poucos móveis. Na casa, residem cinco pessoas e a família vive “em situação de extrema pobreza”.
Foto: Petição MPF
Ronilson contou para a equipe do MPF que trabalha para Gilcy Junior fazendo de tudo, ajudando no posto de combustível, na casa de ração Central Rural e em uma fazenda. Contou que Junior é seu primo e há muito tempo tem uma relação muito próxima.
Disse que seus documentos ficam com Junior, pois às vezes precisa fazer alguma coisa e isso o facilita, e que tem medo de perdê-los. Contou que Junior lhe paga R$ 600 por mês e abastece sua moto, que é muito velha.
Também falou que às vezes ganha cesta básica para ajudar em casa. Sabe que Júnior é “o braço direito” de um juiz que trabalha em Barreiras, e que, com frequência, recebe alguns papéis para assinar. Contou que não sabe ler o que está escrito, mas que confia em Junior.
Afirmou que só tem uma conta bancária e que foi aberta por esse primo para receber o auxílio-emergencial, mas que nunca recebeu nenhuma parcela, pois a esposa de Junior está guardando o dinheiro para comprar uns bichos para criar.
A equipe da operação observou que Ronilson sabe apenas escrever o nome, e não soube colocar a data nos mandados, mesmo sendo orientado. “A percepção da equipe é que Ronilson não tem noção que seus dados foram usados como laranja pela Orcrim”, diz o MPF.
A esposa de Gilcy de Castro Junior é Lidiane Oliveira Maciel. Quando o juiz Sérgio Humberto de Quadros Sampaio foi preso, a Polícia Federal encontrou em sua garagem um veículo Hyundai/Tucson registrado em nome de Lidiane.
Para o MPF, é possível que, durante a prisão do juiz, pequenos saques tenham sido realizados da conta de Ronilson para benefício da esposa de Gilcy de Castro Junior. Na residência do casal foram encontrados documentos importantes para a investigação criminal. Gilcy acompanhava de perto os processos objetos da investigação e teria elaborado minutas de pareceres ministeriais.
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