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Defesa de suspeita de levar morto a banco contesta polícia

Certidão indica óbito no hospital

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Advogada de Josefa Mathias afirma que documento e remoção do corpo pelo Samu são indícios de que aposentado não estava morto quando foi levado à agência em Campinas (SP), no dia 2 de outubro; prefeitura nega e delegado diz que indiciamento tem como base o laudo pericial, que comprova que escrivão estava morto havia 12 horas.

A advogada da mulher suspeita de levar um idoso morto ao banco para tentar sacar a aposentadoria dele, em Campinas (SP), contestou, nesta terça-feira (20), a versão da Polícia Civil de que o aposentado estava morto havia 12 horas quando foi levado em uma cadeira de rodas à agência do Banco do Brasil.

O caso em investigação ocorreu no dia 2 de outubro. Segundo Andreza Carolina Dias Amador, o fato de Laércio Della Coletta ter sido removido pela ambulância do Samu, o não encaminhamento ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO) e a certidão de óbito indicam que o idoso teria chegado vivo ao hospital, vindo a óbito depois.

"A certidão de óbito consta que ele morreu no pronto-socorro Mário Gatti. Eu não entendo muito dos procedimentos, mas geralmente quando uma pessoa falece em domicílio, ou na rua, eles não levam para o pronto-socorro. Eles ligam para a Polícia Militar e o corpo é encaminhado para o SVO. A gente vai apurar os fatos ainda", disse, por telefone.

Andreza ainda afirma que Josefa de Souza Mathias, de 58 anos, e Laércio, um escrivão aposentado de 92 anos, mantinham uma relação estável desde 2009 e que, apesar de os dois possuírem apartamentos diferentes no mesmo edifício, o casal morava junto. "Ela estava morando com ele", completa a advogada.

O que diz a prefeitura?

Em nota, a Rede Mário Gatti de Urgência e Emergência, responsável pelo Samu e atendimento hospitalar em Campinas, informa que o idoso chegou morto ao Hospital Municipal Mário Gatti, e que a transferência do corpo só ocorreu pois a ambulância que fez o atendimento não era uma de suporte avançado, que conta com médico, o único com autoridade para constatar o óbito.

A prefeitura reforça ainda que o corpo foi retirado pelo Instituto Médico Legal (IML), responsável por realizar o exame necroscópico, uma vez que o Serviço de Verificação de Óbito está fechado desde março, em razão da pandemia do novo coronavírus.

"A Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar esclarece que a morte do idoso foi constatada na agência bancária por uma equipe avançada do Corpo de Bombeiros. O Samu havia chegado ao local antes, com uma unidade básica, que não tem autonomia para constatar óbitos. Neste tipo de situação, a causa da morte precisa ser averiguada pelos órgãos competentes. Como o corpo já estava dentro da ambulância do Samu, foi levado ao serviço de saúde mais próximo, no caso o Hospital Mário Gatti, e retirado pelo Instituto Médico Legal (IML), como manda o protocolo. O Serviço de Verificação de Óbito está fechado em razão da pandemia", diz o comunicado.

Indiciamento

O delegado Cícero Simões da Costa, titular do 1º DP de Campinas, informou que o indiciamento de Josefa de Souza Mathias por tentativa de estelionato e vilipêndio (desrespeito) a cadáver é baseado no laudo pericial e nos depoimentos de algumas testemunhas. A mulher nega o crime. Segundo Costa, ele deve concluir e relatar o inquérito ainda esta semana, ficando a cargo da Justiça determinar se aceitar ou não a denúncia contra Josefa.

O caso

O caso ocorreu em uma unidade do Banco do Brasil no dia 2 de outubro. Segundo o Boletim de Ocorrência, Josefa de Souza Mathias alegou ao banco que tinha perdido a senha de letras da conta do companheiro, Laércio Della Colleta, um escrivão aposentado e viúvo de 92 anos. Por isso, o banco informou ser necessário ir até a agência para fazer a prova de vida como medida de segurança.

Ao chegar na agência, na tentativa de apressar o atendimento, a mulher disse que o homem estava passando mal, e os bombeiros foram acionados para ajudá-lo. Foi quando eles constataram que o idoso não só estava morto, como o óbito teria ocorrido havia algum tempo.

Polícia Civil de Campinas ouve pelo menos dois depoimentos nesta sexta — Foto: Johnny Inselsperger/EPTV

'Estado cadavérico'

Segundo o boletim de ocorrência, o Corpo de Bombeiros e o médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) notaram que ele estava em estado cadavérico e com inchaço nos pés.

O diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter 2), José Henrique Ventura, afirmou que o laudo necroscópico apontou que o idoso já estava morto havia 12 horas quando foi levado à agência.

Ao constatar a situação, a equipe comunicou a Guarda Municipal, que estava perto da agência. Essa, por sua vez, acionou a Polícia Militar, que conduziu a mulher ao 1º Distrito Policial para registro da ocorrência. O corpo do idoso foi enterrado no dia seguinte.

Caso será investigado pelo 1º DP de Campinas — Foto: Reprodução EPTV

O que diz o Banco do Brasil

Em nota, o Banco do Brasil informa que "cumpriu todos os protocolos previstos no contrato de prestação de serviço com a fonte pagadora".

A instituição ainda afirmou que não havia pendências com a conta do beneficiário, "apenas a falta das credenciais para acessar a conta e realizar o saque" e, por isso, foi necessária a presença dele na agência.

Veja a nota do banco:

“O Banco do Brasil atua para mitigar o risco de fraudes nos pagamentos de benefícios previdenciários com medidas como a identificação do cliente por meio de senhas, cartão e biometria. O BB esclarece ainda que a ocorrência registrada em uma de suas agências em Campinas, São Paulo, não tinha relação com prova de vida do INSS.

O Banco cumpriu, nesse caso, todos os protocolos previstos no contrato de prestação de serviço com a fonte pagadora, o que inclui a exigência de procuração ou a presença do beneficiário na agência".

 

De <https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2020/10/20/defesa-de-suspeita-de-levar-morto-a-banco-contesta-policia-e-diz-que-certidao-indica-obito-no-hospital.ghtml>