A inadimplência no ensino superior cresceu 29,9% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado. E os prejuízos causados pela pandemia vão além do atraso nos boletos por parte dos alunos. A evasão subiu 14%. O setor estima a perda de 423 mil alunos entre trancamentos de matrículas, desistências e pessoas que deixaram de ingressar no segundo semestre. Isso significa encolhimento de quase 10% do mercado, que abrange 6,5 milhões de alunos.
Os dados são de uma pesquisa do sindicato das entidades mantenedoras (Semesp) com 53 instituições de ensino. Em São Paulo, a inadimplência, índice de alunos que terminaram o semestre com algum tipo de pendência financeira, foi ainda maior. O aumento foi de 47,7%. A taxa de evasão também subiu mais em São Paulo do que no cenário nacional: o índice foi 18,7% maior que no mesmo período de 2019. “Não havia expectativa de um crescimento tão grande da inadimplência e da evasão. Mas a pesquisa semestral acompanhou os levantamentos dos meses de abril e maio. O quadro não foi piorando ao longo do semestre”, avalia Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
O ingresso de novos alunos no segundo semestre, período que representa 30% dos calouros no ano, também ficou abaixo dos últimos anos. No Brasil, o porcentual de queda chegou a 19,8%, com uma redução de 38,2% para cursos presenciais, o segmento mais prejudicado. “Essa perda se refere apenas à pandemia. Ainda temos as desistências normais de alunos que não conseguem fazer o pagamento ou não se adaptam ao curso, por exemplo”, acrescenta Capelato.
Composto por 90% de alunos das classes C, D e E, de acordo com o Semesp, o público do ensino superior privado sofreu com desemprego, diminuição ou perda de renda e suspensão ou redução de contrato de trabalho. Esse cenário, que também atingiu grande parte da população, é o pano de fundo dos trancamentos e desistências.
Thainá Gonçalves, de 18 anos, por exemplo, trancou o curso de Psicologia no quarto semestre nas Faculdades Anhanguera. Embora tenha conseguido o auxílio do programa de inclusão educacional Educamais para 71% da mensalidade, ela tinha de pagar R$ 406, para completar o valor, e a dívida semestral do programa, da ordem de R$ 400. No começo do ano, ela parou. “Foi uma decisão difícil, mas necessária. Não vou perder a esperança de que esse momento vai passar”, diz a auxiliar de vendas.
Bruna Oliveira Palmerim viveu drama pior. Ela interrompeu o curso de Enfermagem, também nas Faculdades Anhanguera, no décimo e último semestre, prestes a se formar, depois de atrasar três meses de mensalidade por desemprego. No início do ano, tentou voltar, mas teria de pagar R$ 600 para quitar atrasados e mais R$ 500 da mensalidade vigente. Além disso, os horários das aulas online não batiam com seu trabalho. “Fico triste porque batalhei por cinco anos e ainda não consegui me formar”, diz a auxiliar de enfermagem de 25 anos, que tem uma filha de 2 anos.
Perspectivas
A pesquisa do Semesp traz ainda pequenos indícios de recuperação do setor para o ano que vem. As rematrículas para o segundo semestre ficaram próximas do patamar do ano passado. No País, esse indicador ficou em 89,7%, taxa 2,6% menor que no mesmo período de 2019. O principal fator de otimismo para 2021 é a retomada das aulas presenciais teóricas, o que deve estimular novas matrículas.
Na opinião de Capelato, muitos que não ingressaram nas faculdades neste segundo semestre, ainda por causa das restrições ao ensino presencial e pela crise econômica, devem retomar os planos em 2021. Depois que o marido conseguiu emprego em uma gráfica, Bruna entrou nesta lista e pretende voltar às aulas em 2021. “A situação está melhorando um pouco. Quero voltar para pegar meu diploma”, diz. Já Thainá vai recomeçar tudo e prestar vestibular no fim deste ano.
Reprodução: Estadão
da Redação do LD