Engenheiros do Departamento de Polícia Técnica (DPT) estiveram na casa de Cleuma Rodrigues dos Santos, madrinha de Jennifer, menina de 5 anos que morreu após ser atingida, na manhã dessa terça (13), por uma marquise que sustentava uma caixa d’água, em Portão, bairro de Lauro de Freitas, na região metropolitana, e informaram ao CORREIO que houve um problema de execução do projeto e que cálculos de engenharia não foram feitos.
“Foi um erro de execução e de projeto. Do jeito que a coisa está lá, foi feito de forma errada e não houve cálculo. Não tinha como a estrutura dar sustentação ao tanque”, comentou um dos engenheiros peritos, que não quis se identificar. Segundo o especialista, pelo menos uma ferragem deveria ter sido colocada para fixar e sustentar a caixa d’água.
Edinalva e Jocivaldo Santos Oliveira perderam a única filha. A mãe ainda não depôs na delegacia por estar muito abalada. Nenhum dos dois quis falar com a reportagem, mas o pai informou que, quando chegou à casa da madrinha, Jennifer ainda estava viva. “Ela estava de bruços, só mexia os olhos”, contou Oliveira.
Jennifer tinha completado 5 anos no dia 3 de outubro (Foto: acervo da família)
A vizinha Rita Paim estava na porta da casa da madrinha, também muito chocada com a tragédia. “Eu fiquei desnorteada. Quando fui olhar, já estava tudo no chão. Nem lembro se falaram ou perguntaram alguma coisa para mim”, narrou Paim.
A prima de Jennifer, Franciele Silva Santos, 22 anos, era uma das muitas que consolavam a mãe e a tia pela perda. “A gente não espera que aconteça isso com a família. É muito triste. Ela era uma minha prima irmã, muito preciosa, alegre, brincalhona e sorridente”, lamentou a prima, que faz curso técnico de administração. Franciele ainda relembrou as bonecas e o maiô que deu de presente à prima no Dia das Crianças e no aniversário dela, que foi em 3 de outubro. A criança tinha acabado de completar cinco anos.
Jennifer e a prima Franciele (Foto: Acervo da família)
A filha de Cleuma dos Santos e Jennifer estudavam juntas em uma escola particular, mas, com as aulas suspensas, a tia tomava conta. Quando a caixa d’água caiu, inundou toda a área, inclusive a casa dela. A doméstica ainda conta que sempre colocava uma piscina embaixo da estrutura para que todas as crianças tomassem banho. Também era costume elas brincarem sob a marquise.
Relembre o caso
O desastre aconteceu pouco antes de 8h da manhã dessa terça, e três pessoas estavam com a menina naquele momento: a madrinha, a tia materna, e outra criança de 10 meses. Nenhuma das testemunhas ficou ferida. O CORREIO foi até ao local do acidente onde a estrutura de concreto e a caixa d’água estavam caídas. O impacto foi tão forte que abriu um buraco no chão do ajuntamento de casas, uma área em comum entre as 6 famílias que vivem ali.
“Estava eu, a tia dela, a bebêzinha e ela [Jennifer]. Ela estava brincando com a bebê no carrinho, eu estava de costas na lavanderia limpando a geladeira. Não ia imaginar. Foi tudo muito rápido, caiu tudo de vez. A gente conseguiu pegar a bebê, mas ela não. A gente gritou socorro e veio um monte de vizinho ajudar, todos os homens dessa rua, para suspender a marquise e tirar ela dali debaixo”, relatou a madrinha.
Segundo a madrinha, Jennifer começou a ficar em sua casa durante a pandemia para que os pais pudessem ir trabalhar. A mãe, Edinalva, é empregada doméstica, e o pai, Jocivaldo dos Santos, 36 anos, trabalha em um depósito de materiais de construção. Quem tomava conta de Jennifer era a tia, para que a madrinha, também empregada doméstica, pudesse ir ao trabalho. “A tia olhava a minha [filha], a bebê e ela [Jennifer] para a gente trabalhar”, disse Cleuma dos Santos. Na manhã de hoje, Cleuma não foi ao trabalho para esperar a filha, que voltava de viagem.
Assim que conseguiu ser tirada debaixo da marquise com ajuda dos moradores, Jenifer foi levada ao Hospital Geral Menandro de Faria. Porém, 30 minutos após de chegar a unidade de saúde, a menina não conseguiu resistir por conta de traumatismo no crânio e sérias fraturas no tórax e pernas.
Delegacia
O caso está sendo investigado pela 34ª Delegacia. A madrinha e o pai já foram ouvidos. As próximas oitivas serão do motorista que deu socorro à criança, a mãe e o responsável pela construção da marquise.
A titular da 34ª Delegacia, Andrea Arrais, informa que não há indícios, nesse primeiro momento, de homicídio doloso, caracterizado quando há intenção de matar. “A gente não vê uma situação dolosa no fato. Eles tentaram de todas as formas prestar o socorro, mas o impacto foi muito violento”, explicou Arrais. A delegada aguarda o laudo pericial dos especialistas para conclusão do inquérito.
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da Redação do LD