O governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), precisa de quatro votos do Tribunal Misto formado por cinco deputados e cinco desembargadores do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) para escapar do processo de impeachment aberto contra ele pela Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), evitando assim seu afastamento definitivo do cargo.
O TJ-RJ sorteia hoje (28) os nomes dos cinco magistrados que irão compor o Tribunal, enquanto a Alerj votará amanhã (29) os nomes dos cinco representantes da Casa. No entender de Witzel, o bom relacionamento cultivado com integrantes do Judiciário desde o tempo em que era juiz federal pode contribuir para salvá-lo do impeachment. Witzel também aposta que o Tribunal Misto adotará critérios "mais técnicos e menos políticos", relatam pessoas próximas a ele.
Caso a maioria simples dos dez membros do Tribunal Misto aceite a denúncia aprovada na última quarta-feira (23) contra ele, Witzel será afastado por 180 dias —dessa forma, ele ficaria "duplamente afastado" do cargo, já que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) o distanciou do cargo no mês passado por seis meses.
O processo culminará após esse período com nova votação do Tribunal Misto. É nesse ponto que entra a conta feita pelo governador: para que ele seja cassado, são necessários dois terços dos votos do Tribunal Misto —sete votos. Como Witzel aposta que os cinco parlamentares votarão favoráveis à sua saída do caso, ele precisará converter os votos de quatro desembargadores.
Defesa de Witzel repercutiu mal entre deputados
Em uma série de postagens em sua conta no Twitter na última quinta-feira (24), dia seguinte à votação da Alerj, Witzel afirmou que enfrentará o processo de impeachment de "cabeça erguida" e que provará sua inocência. Ele afirmou que a Alerj errou sob influência das redes sociais.
"O estrago na minha imagem política foi feito. E, infelizmente, a Alerj, pressionada pelas redes sociais, está cometendo um grande erro, cuja História há de demonstrar", disse.
Em tom inflamado, Witzel desafiou os deputados em seu discurso de defesa na Alerj dizendo não ser o único responsável caso seja comprovado que organizações criminosas operaram esquemas de corrupção em seu governo. Para ele, os deputados foram "omissos".
"Se as máfias continuaram atuando no estado do Rio de Janeiro, não é só a minha omissão que deve ser considerada, mas de todos nós. Por aí dizem: 'Governador, renuncie'. Então vamos fazer o seguinte: renunciamos todos e fazemos eleição para deputado e para governador", sugeriu Witzel.
As declarações não caíram bem entre os parlamentares. Para os deputados, Witzel segue a tônica de ataque e desqualificação à Comissão de Impeachment e às investigações conduzidas pela Casa.
"Não chega a ser novidade esse desdém aos deputados. Witzel não enxerga onde errou nesse tempo de mandato e continua com a mesma postura. É lamentável. É assim que ele pensa que mudará o voto de alguém?", questionou um parlamentar.
Em votação realizada na última quarta (23), os deputados aprovaram o relatório produzido pela Comissão de Impeachment da Alerj, que aponta supostas irregularidades cometidas por ele em compras e renovações de contratos para a área da saúde durante a pandemia do coronavírus.
Na série de publicações em sua conta no Twitter após a votação, Witzel disse que nunca compactuou com a corrupção e que está "sofrendo um linchamento moral e político a partir da palavra, sem provas, de delatores, ou seja, de bandidos confessos".
Ele acrescentou que os milhões de votos que o elegeram para governar "não podem ser anulados por alegações criminais que sequer foram objeto de denúncia recebida".
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da Redação do LD