O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante sessão no plenário. Foto: Agência Câmara
A negociação para a manutenção do veto ao reajuste dos servidores públicos até 2021 pelos deputados está atrelada à prorrogação do auxílio emergencial e liberação de recursos do Orçamento ainda este ano.
Esses dois pontos já estavam em negociação, antes da derrubada do veto pelos senadores na noite de quarta-feira, 19. Com o futuro do congelamento dos salários da União, Estados e municípios agora nas mãos da Câmara, os deputados ganham maior poder de influência – a votação sobre a manutenção ou derrubada do veto está marcada para a tarde desta quinta-feira, 20. O assunto foi discutido em reunião nesta manhã com parlamentares do chamado Centrão.
O auxílio emergencial deverá ser prorrogado até dezembro, como querem os congressistas e também o próprio presidente Jair Bolsonaro.
A percepção de fontes ouvidas pelo Estadão é que os senadores que votaram pela derrubada mandaram um recado claro ao presidente: não adianta o governo se acertar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e achar que está tudo resolvido. O resultado mostrou a disputa já feroz no Senado pela sucessão de Alcolumbre, que trabalha para ter condições de se reeleger. No mapa da votação, dizem as fontes, fica mais clara essa disputa, principalmente entre os senadores do MDB.
Fontes ressaltam ainda que o resultado mostra ao presidente que ele não sabe a força da sua base no Senado, onde a bancada dos partidos do Centrão é muito mais dividida no apoio ao governo. Ainda na quarta-feira, pela manhã, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse que o veto seria mantido. Foi para o voto e perdeu.
Relator do projeto de socorro aos Estados e municípios, Alcolumbre não presidiu a sessão do veto. A “sumida” do presidente do Senado foi lida como um gesto de posicionamento para a disputa na eleição.
Foi Alcolumbre que negociou diretamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, um texto substitutivo ao projeto que tinha sido aprovado pela Câmara e que desagradou a equipe econômica. O congelamento dos salários dos servidores foi negociado como contrapartida à ajuda de R$ 125 bilhões, dos quais R$ 60 bilhões em repasses diretos.
A ironia é que a polêmica em torno do projeto é que levou ao rompimento, na época, entre Maia e Guedes. Agora, Maia pode ajudar a garantia que a bandeira de Guedes de congelamento de salários não fique perdida.
Estadão/// Figueiredo