Há quase quatro meses, o cantor carioca Wander Sant'anna, 28, não faz shows. Desde que estourou a pandemia do novo coronavírus no Brasil, as rodas de pagode estão suspensas para evitar aglomerações.
Isso não o livra de entrar em contato diariamente com uma pequena multidão no ônibus lotado que pega entre Madureira e Jacarepaguá, na capital fluminense, onde trabalha com transporte de carga. "Os pagodes não podem voltar porque vai aglomerar. Mas pode aglomerar no ônibus, na van? É trocar seis por meia dúzia."
A experiência do músico contraria a principal recomendação de médicos para evitar a disseminação do novo coronavírus: manter a distância de outras pessoas. Desde que começou a pandemia, o número de passageiros caiu, mas prefeituras reduziram também a frota, e os ônibus continuaram lotados em horário de pico.
As cidades justificam a redução da oferta com a tentativa de mitigar o impacto financeiro da queda de passageiros. A associação de empresas do setor diz que a demanda chegou a cair 80% nas primeiras semanas, com escolas e serviços fechados, e hoje paira em 40% do que era no mundo pré-pandemia.
Há um porém. Via de regra, as empresas que operam o transporte público no país são pagas de acordo com o número de passageiros que carregam. Ou seja, quanto mais passageiros, maior a rentabilidade da empresa de ônibus —o que estimula a lotação. A redução na demanda coloca toda a operação em risco.
Folha/// Figueiredo