Polícia

Nomeado embaixador do turismo, Richard Rasmussen acumula multas ambientais

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta quinta-feira, 1º, em vídeo publicado no canal oficial do Palácio do Planalto no YouTube, a nomeação do biólogo e apresentador de televisão Richard Rasmussen como embaixador do turismo brasileiro.

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Crédito: Carolina Antunes/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta quinta-feira, 1º, em vídeo publicado no canal oficial do Palácio do Planalto no YouTube, a nomeação do biólogo e apresentador de televisão Richard Rasmussen como embaixador do turismo brasileiro.

“O biólogo Richard Rasmussen recebeu da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) o título de Embaixador do Turismo brasileiro”, diz a descrição do vídeo. “Este título vai permitir que ele promova o País no exterior e como é possível aliar preservação ambiental e turismo sustentável.”

Em seu site oficial, Richard se descreve como um profundo conhecedor do meio ambiente e culturas nativas, da fauna, de comportamento animal e especialmente ecologia”, que tem como inspirações o “famoso apresentador da BBC sir David Attemborough” e o naturalista Charles Darwin.

Durante a nomeação, que tem caráter simbólico, o biólogo esteve acompanhado da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e do presidente do Embratur, Gilson Machado Neto. Durante o discurso, Neto ressaltou, sem dar detalhes, que Rasmussen disponibilizou, gratuitamente, “todo o seu acervo” para a promoção de destinos e atrativos.

Quase R$ 400 mil em multas ambientais pelo Ibama

O biólogo e apresentador de TV, que já teve programas no SBT, na Record e nos canais fechados National Geographic e Animal Planet, soma polêmicas associadas ao seu nome.

Em 2015, o Criadouro Conservacionista Toca da Tartaruga, propriedade de Richard existente desde 1999, foi multada em R$ 393 mil, acrescidos de juros moratórios de 0,5% ao mês, em uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Na ocasião, Richard recorreu da decisão, mas teve recurso negado e a condenação por dano ambiental confirmada pela 3ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF-3).

O motivo para a cassação do registro de funcionamento foi a presença, no local, de animais silvestres sem origem comprovada e sem sistema de marcação visível. “Há vasta documentação apta a demonstrar que o réu incorreu em diversas irregularidades, causando danos à fauna”, afirmou a procuradora regional da República, Marcela Moraes Peixoto, no parecer.

A procuradora ressaltou ainda que ficaram comprovados também danos à fauna e elevado número de mortes de animais pelas más condições do criadouro.

Segundo nota publicada em 2015, pelo MPF, Richard Rasmussen reconheceu as irregularidades. Entre elas, o ingresso de 223 animais sem origem conhecida; evasão de 96 aves, pelo excesso de chuvas; 285 animais depositados pelos órgãos de fiscalização; 485 espécimes sem marcação – cerca de 95% do total.

Acusação

Em 2017, imagens de botos vermelhos sendo abatidos para servirem de isca no Amazonas, em reportagem do Fantástico produzida pelo biólogo e veiculada em 2014, foram alvo de ataques após a divulgação do filme A River Below, de Mark Grieco.

No documentário, os pescadores que foram mostrados na reportagem da TV Globo afirmam que Rasmussen os pediu, em troca de dinheiro, combustível e alimentos, para que matassem um boto em frente às câmeras – sob a promessa de que não divulgaria as imagens. Questionado pelo diretor, em cena, Richard nega que tenha dado dinheiro, mas afirma que deu combustível e alimentos, coisa que faz toda vez, não como pagamento.

Richard chega a dizer, em determinada passagem, que não exibiu as imagens em veículo algum. Mark Grieco pergunta então se não foi ele que filmou o que foi exibido pelo Fantástico e, só então, o biólogo assente: “Ah, sim”.

Procurado pelo Estado, o apresentador não respondeu até as 10 horas desta segunda-feira, 5.

“Eu estava lá. Não fiz nada. Filmei o boto sendo morto e não ganhei nada com isso. Não usei em nenhum documentário e abri mão de todos os direitos de imagem. Entreguei as imagens ao mundo para que o mundo visse o que acontece ali”, declarou Rasmussen em outro trecho do filme, após afirmar que o diretor agiu de má fé ao procurar ouvir os pescadores sem o avisar previamente.

À época, o diretor, em nota enviada à Veja, lamentou “a forma sensacionalista com que o filme foi recebido” e que ele desvia as atenções do foco principal, que são as medidas de proteção aos botos.

Em nota publicada em seu perfil no Facebook – que conta com 1,7 milhão de seguidores -, Rasmussen não negou a acusação e disse que “sabia que as imagens de matança dos botos seriam importantes”.

“Isso fez com que a opinião pública, horrorizada, pudesse pressionar governantes e nações a mudar suas políticas de conservação. As pessoas se importam apenas com o que conhecem. Mas como conseguir uma imagem dessas?”, questionou.

Segundo ele, representantes da comunidade argumentaram que foram estimulados por ele a realizar a caça, “obviamente, tentando se proteger”.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) divulgaram nota, na ocasião, em defesa do apresentador.

“O Inpa jamais permitiria ou compactuariam com acordos ou encomenda de imagens que envolvessem a morte de animais ou quaisquer tipos de transações financeiras com pessoas das comunidades onde foram captadas as imagens”, diz o texto.

A TV Globo, por sua vez, afirmou não ter tido acesso ao documentário e saber a procedência das imagens: “A correção na apuração jornalística jamais é colocada em risco seja qual for a causa em jogo”.

Após a veiculação da reportagem, o então Ministério da Pesca e Aquicultura e o Ministério do Meio Ambiente publicaram portaria que restringiu por cinco anos, a partir de janeiro de 2014, a pesca da piracatinga, na região Amazônica – peixe do qual o boto-cor-de-rosa servia como isca.

Estadão // AO