Se você paga em sua conta de energia uma média de R$ 300 por mês, se prepare para desembolsar mais R$ 32,60 a partir deste sábado (1º), quando entra em vigor o reajuste nas bandeiras estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Apesar do exemplo citado, que vale para os meses em que estiver ativa a bandeira vermelha 2, todo mundo será impactado. Isso porque todas as bandeiras subiram de valor.
Esse mês, está em vigor a bandeira amarela, que é a que sofrerá o maior aumento – passa de R$ 1 para R$ 1,50 a cada 100 kW/hora. Já a bandeira vermelha no patamar 1 mudará de R$ 3 para R$ 4 a cada 100 kW/h, e no patamar 2 de R$ 5 para R$ 6, a cada 100 kWh. Segundo a Aneel, “a alteração foi especialmente motivada pelo déficit hídrico do ano passado, que reposicionou a escala de valores das bandeiras”.
A pedido do CORREIO, a Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba) fez simulações para quem está acostumado a pagar R$ 100, R$ 150, R$ 200, R$ 250 e R$ 300 na conta de luz. A solicitação é para mostrar, na prática, quanto isso significa no bolso do consumidor.
Na bandeira amarela, quem pagava R$ 100 passará a pagar R$ 102,72; no valor de R$ 150 será acrescido R$ 4,08; enquanto R$ 200 terá reajuste de R$ 5,43. As contas de R$ 250 passarão para R$ 256,79, enquanto as de R$ 300 terão acréscimo de R$ 8,15.
Na bandeira vermelha 1, o acréscimo para quem paga R$ 100 será de R$ 7,24 e de R$ 10,87 para quem costuma pagar R$ 150. Nos casos das contas de R$ 200 e R$ 250, os valores acrescidos serão de R$ 14,49 e R$ 18,11, respectivamente. Já para quem desembolsa R$ 300 todo mês, a conta vai subir para R$ 321,73.
O maior aumento é no caso da bandeira vermelha 2, quando o consumo já está alto para o padrão da pessoa. O reajuste será superior a 10%: de R$ 10,87 para aqueles que costumam ter a conta no valor de R$ 100 e de R$ 16,30 nas contas que eram de R$ 150. As contas de R$ 200 passarão para R$ 221,73, as de R$ 250 para R$ 277,17 e as de R$ 300 terão aumento de R$ 32,60.
De acordo com a gerente de eficiência energética da Coelba, Ana Christina Mascarenhas, o segredo para pagar menos é simples: consumir menos. “Para conseguir isso, é bom reduzir o tempo do banho, por exemplo. O ideal é que dure 8 minutos, dá tempo de fazer tudo”, disse.
Os grandes vilões, segundo aponta a gerente, são chuveiro, ar-condicionado e geladeira velha, que são sinônimos de conta mais alta. Se a pessoa tem computador em casa, melhor tirar da tomada quando não estiver funcionando, pois continua a consumir.
“Televisão tela plana é a mesma coisa: melhor desligar a TV se não está assistindo. As geladeiras de hoje são com potências menores, geram economia boa. Se a pessoa tiver uma mais velha e puder trocar, é interessante”, completou Ana Christina.
O inverno está chegando e, naturalmente, as pessoas vão usar mais o chuveiro elétrico. Mas isso, segundo a gerente da Coelba, não vai interferir muito na conta, a não ser que tenha muita gente na casa e os banhos sejam demorados.
Dentre as dicas para economizar energia, está a substituição de lâmpadas fluorescentes por lâmpadas de LED – o custo inicial será compensado com a economia de energia. Outra dica é básica: apagar a luz quando não estiver utilizando, com exceção daquelas que contribuam para a segurança.
Pintar as paredes e o teto com cores claras também é uma boa ideia, já que favorece a maior luminosidade da casa, inclusive durante o dia, quando deve ser aproveitado o máximo de luz solar que entra pelas janelas e portas.
Com relação aos eletrodomésticos, deve-se evitar secar roupas atrás de geladeiras, por exemplo, e verificar o estado das borrachas de vedação. Descongelar e limpar os refrigeradores com frequência também auxilia a gastar menos energia. E claro, só abra a geladeira quando necessário.
No caso do ferro de passar, o ideal é juntar um volume de roupas e passar tudo de uma vez. Além disso, na hora de comprar, escolher um aparelho com menor potência e ajustar a temperatura do ferro ao tipo de tecido.
Quando o assunto é a máquina de lavar, as orientações da Coelba são semelhantes: lavar um grande volume de uma vez só, usar a dosagem de sabão adequada e manter o filtro do eletrodoméstico sempre limpo.
Considerado um dos principais vilões da conta de energia, o ar-condicionado deve ser utilizado de forma racional. Portas e janelas devem estar fechadas e o aparelho regulado de forma adequada. Se for desocupar o ambiente, ele deve ser desligado.
No caso de todos os aparelhos eletrônicos, a Coelba orienta observar se ele possui o selo Procel de Economia de Energia. Caso não encontre equipamentos com o selo, a opção mais segura é escolher os que tem a classificação A do Inmetro.
Outra fica importante: não deixar o celular conectado ao carregador o tempo todo na tomada, pois pode causar até incêndios em caso de um curto circuito. Também é necessário ter cuidado com a bateria do aparelho, pois ela tem um tempo de uso e, se for velha demais, corre risco de explosão.
Como calcular?
Para calcular a conta de energia (kW/h), a fórmula é a seguinte: multiplica-se o valor da potência do equipamento (W) pelo valor do número de horas utilizadas ao dia. Depois, pelo número de dias usados no mês, dividido por 1.000.
A esse valor serão acrescidos impostos federais, estaduais e encargos. “Nossa parcela, a que ficamos, é de 25%. O restante é distribuído para outros entes, incluindo a bandeira tarifária”, informou Ana Christina.
Segundo ela, o que impacta mais as pessoas hoje em dia para a economia de energia é o meio ambiente. “Pelo menos com crianças conseguimos mais coisas. Antigamente, quase não víamos mais as escolas falando sobre isso. Hoje em dia, nós fazemos palestras para escolas, com tarefas de energia", contou.
“Todo dia tem alguma palestra em alguma comunidade popular por meio do caminhão ‘energia com cidadania’. Vamos com parceiros, como prefeitura e Ministério Público, e a pessoa recebe uma lâmpada de LED. Em outro projeto, em Salvador, a cada lâmpada florescente que a pessoa leva, ela recebe uma de LED em troca. Podem ser trocadas até cinco lâmpadas, sempre nas prefeituras-bairros”, informou a gerente da Coelba.
Veja dez dicas para economizar energia elétrica em casa:
Muitos consumidores estão buscando alternativas para reduzir o consumo de energia em casa, devido aos reajustes da tarifa anunciados pela Aneel.
De acordo com Endrigo Rafael Ferreira, Eletricista Emergencial do GetNinjas, maior plataforma de contratação de serviços da América Latina, os grandes “vilões” do consumo são chuveiro, geladeira, secador de cabelo e chapinha, porque utilizam resistência, além da geladeira, por estar constantemente conectada.
“A porcentagem [de consumo de cada aparelho], por sua vez, varia muito de caso para caso. Depende da qualidade dos equipamentos e dos níveis de utilização também”, disse o eletricista emergencial ao CORREIO.
O GetNinjas listou dez dicas simples e bastante práticas que podem auxiliar a evitar que o valor da conta de luz fique muito salgado no fim do mês.
1. Verifique como está o sistema elétrico: os curto-circuitos são muito comuns e, geralmente, não são identificados até que a conta chegue apresentando cobranças excessivas. Nesse caso, é importante contratar um profissional da área elétrica para revisar as instalações, assegurar que não existam fugas de energia e realizar as manutenções necessárias.
2. Desconecte os aparelhos que não estão sendo utilizados: é comum deixar os aparelhos conectados na tomada mesmo desligados. O que muita gente não sabe é que esse hábito consome energia de forma constante e silenciosa. Os poucos segundos 'perdidos' para plugar e desplugar os aparelhos podem render uma boa economia na conta do final do mês.
3. Use o ar-condicionado de maneira responsável: para otimizar o uso do aparelho ou do aquecedor, procure manter o termostato regulado e deixe portas e janelas fechadas quando estiverem ligados, para evitar gasto excessivo. Certifique-se também que não haja obstrução da temperatura dos equipamentos para que eles não superaqueçam. É importante, ainda, no começo das temporadas de calor e de frio, fazer a manutenção.
4. Utilize os eletrodomésticos propriamente: até a década de 1990, era comum que o microondas ficasse ligado frequentemente para ser utilizado como relógio. Sejamos realistas: hoje em dia não precisamos consultar o horário nele ou em qualquer outro eletrodoméstico. É importante que os aparelhos sejam ligados apenas quando o uso for relevante. Hábitos como deixar a televisão ligada somente para 'não ficar em silêncio absoluto' e deixar o carregador do celular conectado na tomada o dia inteiro somente para necessidades eventuais podem ser eliminados e trazer resultados positivos para o bolso no final do mês.
5. Procure fazer a manutenção periódica dos aparelhos eletrônicos: além da primeira revisão para detectar e evitar curto-circuitos, é recomendado revisar constantemente toda a instalação elétrica, sobretudo em casas antigas, para garantir que os reparos sejam feitos antes que os problemas apareçam.
6. Troque as lâmpadas antigas: as versões mais econômicas ajudam a reduzir o consumo da eletricidade em até 80%, além de apresentarem preço mais amigável. As lâmpadas de LED, ainda que um pouco mais caras, são mais eficientes que as de luz branca e têm vida útil de até 20 anos. A longo prazo, a troca da iluminação é bastante rentável.
7. Não carregue seus celulares a noite toda: a menos que a bateria do celular esteja completamente esgotada. Evite deixar este ou qualquer outro aparelho conectado ao carregador a noite inteira. Além de consumir energia elétrica desnecessária, o hábito reduz a vida útil da bateria dos aparelhos e não garante que a carga dure mais tempo.
8. Evite o uso de secadoras e máquinas de lavar louça. A secadora de roupa é um dos eletrodomésticos que mais consome energia, além de ser um dos menos necessários. A menos que se trate de uma emergência, é aconselhável deixar as roupas secarem naturalmente. O mesmo se aplica à máquina de lavar louça, que além da energia, gasta muita água.
9. Renove os eletrodomésticos. Os aparelhos antigos não têm mais tanta eficiência, principalmente aqueles que liberam calor quando utilizados. Avalie quais são os mais importantes no seu cotidiano e adquira modelo mais recentes. Ao comprar um novo equipamento, certifique-se que ele tenha etiqueta de eficiência energética para levar para casa um aparelho que ajude a reduzir o consumo de eletricidade.
10. Coloque os aparelhos elétricos em lugares adequados: geladeira, microondas, máquina de lavar roupas, entre outros, são aparelhos que têm o rendimento afetado dependendo do lugar onde estiverem posicionados. Quando colocados próximos de fontes de calor, como em locais onde o sol os atinge diretamente, por exemplo, eles tendem a funcionar com mais dificuldade e, por conta disso, consomem mais energia elétrica. Certifique-se de instalá-los em espaços nos quais eles possam ventilar e não superaquecer.
Intervenção política
Outros consumidores da Bahia estão preocupados com as novas tarifas e cobram intervenção política para que a situação se reverta. Os novos reajustes são fruto da adoção de uma metodologia para as faixas de acionamento, as quais tem como referência o risco hidrológico (GSF), que é o resultado da divisão entre a geração total das usinas integrantes do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) sobre a garantia física total das usinas.
Quando a geração total das usinas do MRE é inferior ao somatório de suas garantias físicas, o GSF é menor que 1, e aponta que as condições de geração hidrelétrica não estão boas. Para a Aneel, “o efeito do GSF a ser percebido pelos consumidores retratará com maior precisão a produção da energia hidrelétrica e a conjuntura energética do sistema”.
A definição da cor da bandeira é dada pela combinação entre risco hidrológico e preço de liquidação de diferenças (PLD). Com GSF a partir de R$ 0,99, independentemente do valor do PLD, a bandeira verde é acionada. Abaixo desta quantia, a definição da bandeira é dada pela combinação com os valores de PLD numa tabela da Aneel.
Para a Aneel, “o sistema de bandeiras tarifárias sinaliza o custo real da energia gerada, possibilitando aos consumidores o bom uso da energia elétrica”. Além disso, “esse custo é pago de imediato nas faturas de energia, o que desonera o consumidor do pagamento de juros da taxa Selic sobre o custo da energia nos processos tarifários de reajuste e revisão tarifária”.
Aumento pode afetar produção de bananas na Bahia
Do pequeno ao grande consumidor, não há quem não se preocupe com notícias sobre reajustes na conta de energia elétrica. Um dos maiores consumidores da Bahia está em Bom Jesus da Lapa, no oeste: é o Projeto Formoso, destaque nacional na produção de banana da prata e nanica.
No Projeto Formoso, há 1.200 lotes, sendo 926 familiares (de 4 a 6 hectares de área, com mão de obra familiar) e o restante empresariais (de 10 a 50 hectares). Dentro do projeto há a Associação Banana da Bahia, que reúne 28 grandes produtores.
No projeto são mais de 9 mil hectares irrigados com água do Rio São Francisco, que é bombeada para a lavoura por cerca de 30 pivôs que ficam ligados cerca de 18h por dia. O resultado é um consumo mensal que varia de R$ 700 mil a R$ 1 milhão, o que faz a energia corresponder a 25% do custo da produção de banana na cidade.
“Nos últimos quatro anos, a energia subiu 35% e está muito alta. Não temos condições de continuar produzindo nessa situação. Devido a esses e outros fatores, a produção de banana foi reduzida a 20% nos últimos dois anos”, afirmou o presidente da Associação Banana da Bahia Ervino Kogler.
“A energia aqui é insumo, o Nordeste precisa de energia para conseguir produzir. Por isso, pedimos que os políticos nordestinos possam intervir junto ao governo para mudar essa situação. Precisamos que nos apoiem para que nossa produção não fique inviabilizada num futuro próximo”, concluiu.
Em Rosário, distrito da cidade de Correntina, no extremo oeste da Bahia, a situação de quem vive por lá é de quase abandono com relação aos serviços de energia, conforme relata o empresário Nelson Stimer, que atua no ramo de imobiliária (compra e venda de fazendas).
“Além de cara, não temos assistência alguma aqui, quando ocorre um problema os técnicos demoram até três meses para aparecer”, disse ele, que paga em sua casa, onde moram quatro adultos e três crianças, média de R$ 500 por mês de energia e mais cerca de R$ 300 no escritório da imobiliária.
“Somos meio que esquecidos aqui. O distrito fica a 204 km da cidade de Correntina, então, o pessoal, pelo que temos visto, dá prioridade para atender grandes produtores”, comentou Stimer, que diz ter “consumo normal, uso pouco ar-condicionado, mais à noite mesmo”.
Segundo ele, sua conta “há uns 5 anos era de R$ 80 a R$ 100”, valor que a maior parte das pessoas de classe média e média baixa (maior parte dos consumidores) costumam pagar atualmente. Esse público, inclusive, é o maior foco de ações educativas da Coelba para incentivar a economia de energia.
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