O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 16, esperar que o Congresso aprove a medida provisória da reforma administrativa sem alterações, inclusive, mantendo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sob a tutela do ministério da Justiça. Ele disse, no entanto, respeitar a decisão do Parlamento caso os deputados decidam por manter as alterações que já foram impostas à medida.
"Se tiver (alterações), não só responsabilidade, como é um direito do Parlamento fazer isso aí. A gente espera que o Coaf continue na Justiça, a gente espera que nenhum novo ministério seja criado para evitar aumento de despesa. Agora, deixo bem claro que o Parlamento é soberano e o que foi feito lá nós respeitaremos", disse.
Na semana passada, a Câmara impôs uma derrota ao governo ao aprovar, na comissão mista que analisou a MP, a retirada do Coaf da Justiça, devolvendo-o ao Ministério da Economia. O Planalto também queria que os deputados votassem rapidamente a medida no plenário da Câmara, mas, sem conseguir articular direito, o governo viu a Casa adiar a votação.
Há um movimento entre os parlamentares para deixar que esta e outras medidas percam seu prazo de validade. A MP em questão tem vigência até 3 de junho. Se não for aprovada até lá, todas as fusões de pastas feitas até agora serão desmanchadas.
Bolsonaro também destacou que o governo depende "muito" da aprovação da reforma da Previdência, em tramitação na Câmara. "É uma oportunidade de ouro. Com ela, queremos mostrar para o mundo que temos responsabilidade", disse. O governo prevê que a proposta possa ter sua tramitação concluída no Congresso até o fim de julho. Bolsonaro fez o apelo durante a transmissão de uma live pela sua página no Facebook.
Bolsonaro volta a criticar manifestações contra cortes na Educação
Durante a gravação, ele voltou a criticar manifestantes que foram às ruas e disse que "não foi uma manifestação pela educação" e sim um ato "patrocinado por uma minoria de espertalhões usando a boa fé de alunos que querem uma educação melhor também para fazer um ato 'Lula livre'", afirmou.
Ele ainda ironizou a situação do ex-ministro José Dirceu, que teve nesta quinta-feira recurso rejeitado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). "Inclusive parabéns, José Dirceu, vai curtir umas férias em algum presídio federal por aí", disse.
Bolsonaro disse que as viagens ao exterior são para buscar "maneiras de mostrar para os investidores que podem ter confiança no Brasil". "Aquele fantasma que estava o tempo todo na nossa frente de uma possível Venezuela tendo em vista a questão ideológica vai deixar de existir", disse Bolsonaro.
Nesta quinta-feira, no Texas, o presidente teve encontros com empresários como o presidente da Exxon Mobil, Darren Woods. Participando também da live, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que Woods "manifestou o interesse que a empresa tem de realizar grandes investimentos no Brasil" após mais de 8 anos e "tem perspectivas com os leilões que serão realizados".
Bolsonaro visitou Dallas em uma agenda articulada às pressas pelo governo brasileiro depois de o presidente cancelar a ida a Nova York, diante de críticas do prefeito da cidade. O presidente afirmou que o prefeito, Bill de Blasio, se comportou como um "garoto de centro acadêmico" e que ele visitou "o estado certo", que é o Texas. "Fomos muito bem recebidos em Dallas", disse. De Blasio disse que Bolsonaro era perigoso e preconceituoso. Bolsonaro disse que De Blasio afirmou que ele é "racista, homofóbico e fascista". "É pra dar risada, né?", completou Bolsonaro.
Decretos de armas
Bolsonaro voltou a defender a edição de dois decretos sobre armas, um que tratou de posse e outro que liberou o porte para algumas categorias. O presidente disse ainda que a quebra de monopólio possibilitará que as pessoas possam ter "armas decentes" e que gostaria que profissionais da área de segurança tivessem isenção do imposto de importação sobre armas de fogo.
"Estou aqui nos Estados Unidos e esta parte vai levar 30 dias para entrarem vigor. Caso fosse possível, eu ia comprar uma arma aqui nos Estados Unidos, pô. Talvez alguém da equipe também comprasse de forma legal, sem problema nenhum. Na próxima viagem vamos comprar uma arma. Inclusive para facilitar nossos homens e mulheres da leia ter uma arma decente junto consigo", disse.
Caixa vai devolver prédios em Brasília
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, também participou da transmissão do presidente. Ele anunciou que a Caixa irá devolver parte dos prédios que ocupa. Em Brasília, segundo ele, serão devolvidos dez prédios, dos 15 atuais, até o final do ano. Ele também disse que o programa Minha Casa Minha Vida continua. "Inclusive estamos terminando obras, começando outras", disse.
Bolsonaro também disse que, no passado, seu sentimento em relação ao banco "não era bom pela politização da cúpula da Caixa". Em resposta, Guimarães afirmou que substituiu cerca de 20% da cúpula do banco e disse que, "os que ficaram foi por merecimento".
O presidente também falou rapidamente, sem dar detalhes, que o governo pretende diminuir o prazo para o licenciamento das PCHs, sigla para Pequenas Centrais Hidrelétricas. Para ele, atualmente, demora-se quase dez anos para obter a autorização para a produção de energia com este tipo de geração.
Ao final da live, Bolsonaro conversou com a intérprete de libras que acompanhou a gravação. A brasileira Joice Porto, que mora em Dallas. O presidente a questionou sobre se ela voltaria para o Brasil, caso o País melhorasse. Joice respondeu positivamente.
Bolsonaro também a questionou sobre suas condições de trabalho no Estados Unidos. Joice afirmou que trabalha no campus de sua universidade e recebe por hora trabalhada. "Lá (no Brasil), se fala muito em direitos trabalhistas, aqui tem direito trabalhista? Muito, pouco ou alguns?", questionou. A intérprete, então, respondeu que existem "alguns". "Não vamos entrar em detalhe para evitar até que a imprensa, que está nos ouvindo, escreva coisas que não condizem com a realidade. É um país maravilhoso, tem muita coisa aqui que, se for possível, temos que copiar no Brasil", completou. O presidente disse ainda que alguns brasileiros cometem crimes no Brasil, mas não cometem nos Estados Unidos.
EStadão // AO