O estudante Hebert Felipe Souza Silva, 11 anos, foi morto vítima de uma bala perdida, enquanto brincava na Rua dos Pássaros, no bairro Jardim Brasília, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), no começo da noite de quinta-feira (14). A família acusa policiais militares de terem efetuado os disparos. O garoto ainda foi socorrido para o Hospital Geral de Camaçari (HGC), mas já chegou à unidade de saúde sem vida.
Segundo familiares, o menino, que era aluno do 5º ano Colégio Dom Pedro II, uma instituição particular, brincava na rua de casa com amigos, quando foi alvejado. Em nota enviada às 11h40, a Polícia Militar informou que os PMs que participaram da ação foram presos em flagrante.
Vizinhos contam que a criança estava com o peito coberto de sangue. Ele foi socorrido para o hospital pela própria polícia. Hebert era o caçula de três filhos da auxiliar de limpeza Gilcinalva Santana Souza Silva, 51. Ela conta que ouviu os tiros, mas acreditava que o filho estivesse na casa do vizinho onde costumava ir todas as noites tomar banca (reforço escolar).
"Eu não gostava que ele ficasse na rua, porque a polícia sempre costuma passar aqui em alta velocidade, eles não respeitam nem quebra-molas. Quando ouvi os tiros, se soubesse que meu filho estava do lado de fora, abriria o portão e teria dado a minha vida por ele", diz.
No local da morte, moradores exibem faixas e cartazes pedindo justiça. A perícia está no local e isolou a área. Várias casas da rua exibem marcas de tiros e ainda havia cápsulas no local. A escola onde Hebert estudava suspendeu as aulas nesta sexta.
A PM disse em nota que lamenta profundamente a morte da criança e informa que a equipe envolvida na ocorrência foi autuada em flagrante com base em indícios colhidos na Corregedoria da Polícia Militar, na manhã desta sexta-feira.
"O comando geral da corporação se solidariza com os familiares da vítima e reitera que todas as providências estão sendo adotadas para fazer cumprir a lei com rigor. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado e foram ouvidas as testemunhas e familiares da vítima, assim como os policiais militares integrantes da guarnição envolvida no fato".
Ainda em nota, a PM informou que, pós realização de exames periciais legais, os policiais envolvidos na ação serão encaminhados para a Coordenadoria de Custódia Provisória, localizada no bairro da Mata Escura.
Perseguição
Os vizinhos dizem que os policiais estavam em uma operação em busca dos adolescentes que fugiram da Case de Camaçari e chegaram na rua atirando. A Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) nega que os policiais estiveram na rua com esse intuito. Eles informaram que um veículo modelo Corsa teria sido roubado na Radial e que a Polícia Militar foi acionada.
A SSP informou ainda que os policiais teriam localizado o veículo na Rua dos Passáros e, durante a perseguição, o bandido perdeu o controle da direção e bateu o o carro, havendo então uma troca de tiros. Os bandidos teriam conseguido fugir e, só depois, os policiais teriam encontrado o corpo da criança no local, segundo a SSP.
No entanto, a versão é rebatida por moradores da rua. Eles alegam que o incidente envolvendo o Corsa ocorreu nas proximidades da Brasilgás, que fica na Rua da Bandeira, a mais de 200 metros do local que a criança foi baleada. "Eles invadiram uma casa de uma senhora em busca de um rapaz e em outro momento botaram a arma na cabeça de um amigo de Hebert. Nessa hora, o pai do garoto disse: 'olha a merda que vocês fizeram'. Só então eles viram o corpo da criança no chão", contou um morador, que pediu para não ser identificado.
De acordo com a SSP, o caso é investigado pelas corregedorias da Secretaria de Segurança Pública e das polícias Civil e Militar. A pasta informou ainda que embora não haja indícios, eles apuram se o garoto estava envolvido no roubo do carro, as circunstâncias em que o carro foi roubado e de onde partiu o disparo que matou a criança.
Correio // AO