O governo está em compasso de espera para o desfecho que o presidente Jair Bolsonaro pretende dar ao imbróglio envolvendo o ainda ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno. A expectativa é de que o impasse, iniciado na quarta-feira da semana passada, culmine com a demissão do ministro. "De hoje não passa", afirmou o vice-presidente Hamilton Mourão ao jornal O Estado de S. Paulo. "Bebianno vai ser exonerado hoje pelo presidente", reforçou.
O desfecho completo dessa novela deverá ser conhecido apenas por volta das 17 horas, durante briefing do porta-voz, general Otávio Rêgo Barros. Mas os detalhes da decisão estão na cabeça do presidente Bolsonaro, que, neste momento, não está compartilhando o que pensa em fazer. Além de Mourão, outros interlocutores diretos do presidente afirmam que, apesar de a demissão de Bebianno não ter vindo no Diário Oficial da União (DOU) já publicado nesta segunda-feira 17, sairá ainda hoje.
Todo esse desgaste está preocupando, e muito, o segmento militar do governo, que considera que a crise já foi muito além do que deveria e tem prejudicado toda a agenda positiva que vinha sendo trabalhada. Para interlocutores diretos do presidente ouvidos pelo Estado, é preciso encerrar o capítulo Bebianno o quanto antes, e acabar com esse clima de guerrilha e desconfiança que tem dominado parte do governo e se acirrou nos últimos dias.
Embora o governo esteja com menos de 50 dias, de 1º de janeiro para cá, os militares tiveram de apagar inúmeros incêndios. O entendimento é de que não pode ser assim o tempo todo, apagar incêndio todos os dias, criando um clima de instabilidade indesejável. Já que a situação de Bebianno é insustentável, questionam os auxiliares, é preciso virar logo a página para que o governo volte a focar em agendas positivas. Que se deixe os fantasmas de lado e se passe a administrar efetivamente as metas governamentais.
Prolongar essa sangria do Bebianno para esta segunda-feira foi considerado um erro porque, nesta quarta-feira, o governo pretende encaminhar ao Congresso o texto da reforma da Previdência e auxiliares do governo temem que a estratégia pró-reforma seja contaminada pelas tradicionais intrigas palacianas. Lembram, por exemplo, que a "importantíssima" operacionalização da quarta passada de transferência de presos perigosos para presídios federais ficou relegada a segundo plano já por causa da crise Bebianno.
O governo tenta, por exemplo, se organizar para a viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, uma bilateral para tratar de comércio, considerada agenda positiva. Mas todos sabem que o tema não terá nenhum espaço se esta guerra prosseguir. A assessoria do Planalto informou que o presidente avalia, por exemplo, que Bolsonaro poderá levar a proposta da reforma da Previdência ao Congresso. Seria uma forma de criar um fato. Para o mesmo dia, está marcado o fórum dos governadores. Mas os auxiliares dizem que, de nada adianta se, no mesmo dia, um desses "tuítes bombásticos" for publicado nas redes sociais.
Bolsonaro passou a manhã no Palácio do Planalto, para onde foi, depois de se reunir com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no Palácio da Alvorada. Desde cedo, Bolsonaro está com "despachos internos" na agenda, mas se reuniu também com outros ministros da Casa – Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e general Santos Cruz, da Secretaria de Governo – e decidiu não ir para o Alvorada almoçar.
O presidente já foi avisado de que Bebianno poderá sair atirando, trazendo problemas de campanha para a mídia. A família Bolsonaro está irritada com as ameaças. Os principais assessores do presidente esperam que, com a volta do presidente ao Planalto e a redução da influência dos filhos sobre ele, particularmente o vereador Carlos Bolsonaro, haja um pouco mais de serenidade no governo e ele passe a ouvir um pouco mais a chamada ala mais conservadora e mais equilibrada do Palácio. Os militares estão um pouco impacientes com essas guerrilhas em redes sociais, que consideram que só têm contribuído para atrapalhar o governo, embora reconheçam que este foi o instrumento usado por Bolsonaro para chegar ao comando do País.
Estadão // AO