Campeão de votos nas eleições de 2018 na Bahia, o deputado estadual Pastor Sargento Isidório sabe como poucos atrair atenção para si. A última jogada foi a renúncia, antes da expectativa natural, do cargo na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) para que um suplente fosse convocado para ocupar a vaga por pouco mais de uma semana. Eleito deputado federal, Isidório poderia encerrar o mandato no legislativo baiano no dia 31, mas preferiu antecipar para, segundo ele, receber uma promoção que permitiria uma aposentadoria mais gorda como policial militar.
Eleito pela primeira vez em 2002, o Pastor Sargento está afastado da corporação desde então. Folclórico desde o princípio, quando ainda andava com um falso botijão de gás, Isidório chegou à Assembleia depois de integrar o grupo que liderou uma paralisação de policiais militares em 2001. De lá para cá, manteve pautas relacionadas à segurança, porém se tornou mais conhecido pelo trabalho social à frente da Fundação Doutor Jesus – controversa do ponto de vista do tratamento da dependência química, mas relevante para as famílias assistidas.
A Fundação Doutor Jesus cresceu junto com a presença de Isidório na mídia e na perpetuação dele com cargos eletivos. Em 2016, já consolidado como “doido” na definição sugerida por ele, foi candidato a prefeito de Salvador com o apoio do governador Rui Costa. Chegou longe de ameaçar o projeto de reeleição de ACM Neto, mas somou o espólio ao trabalho com dependentes químicos e liderou no ano passado a votação dos baianos para a Câmara dos Deputados, ao tempo em que transferiu o capital político para o filho, João Isidório, também campeão de votos na corrida pela Assembleia.
Na mesma semana em que renunciou, o deputado-pastor-sargento foi notícia com a repercussão negativa da queixa-crime da cantora Daniela Mercury contra ele – totalmente razoável, devido ao comportamento inadequado do parlamentar -, mas resolveu minimizar os efeitos dessa polêmica. Figurou na mídia como um pobre trabalhador que precisa ter uma promoção antes de se aposentar, pois a aposentadoria como deputado não seria suficiente para sobreviver. Poderia ser uma piada, porém só serve como uma prova de que Isidório não tem absolutamente nada de “doido”.
No entanto, para quem achava que situação não poderia ser mais surpreendente, eis que o deputado resolve brincar com a capacidade de discernimento do eleitor, ao sugerir que poderia renunciar ao cargo na Câmara dos Deputados em troca de uma aposentadoria na Polícia Militar com uma promoção final. Quem acredita? Talvez quem ache que Isidório é apenas um personagem que não calcula os próximos passos políticos a dar.
Daniela fez seu papel ao trazer o assunto de novo à pauta. Com sua sugestão de acordo em que o deputado doaria 20% do seu salário por 5 meses para uma instituição indicada por ela, a cantora forçaria o parlamentar a se “retratar mensalmente” pelo que disse. É uma forma de marcar posição, mas provavelmente não surtirá efeito. E Isidório deve manter um discurso que simplesmente fuja da questão, tentando mudar de assunto – e levar a imprensa com ele.
Sim, é um direito do sargento se aposentar com uma patente acima, como determina a legislação. Isidório, ainda que não esteja na corporação desde 2003, é legalmente apto a receber a promoção e ninguém questiona isso. Porém é difícil crer que apenas a aposentadoria seja a justificativa real para que os holofotes sobre ele passem de alvo de uma queixa-crime a um trabalhador igual aos milhares de brasileiros que têm medo do que a reforma da previdência vai trazer. Além de deputado, pastor e policial militar, Isidório é um cara bem esperto.
Bn // AO