Brasil

Após a crise migratória em Roraima, venezuelanos contam como é a vida em outros estados

Com processo de ‘interiorização’ iniciado em abril pelo Governo Federal, mais de mil imigrantes foram levados a locais como RS, RN, PB, BA, PR, DF, AM, PE e MT.

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Após a crise migratória em Roraima, venezuelanos contam como é a vida em outros estados

Com o agravamento da crise migratória em Roraima provocada pela chegada de milhares de venezuelanos que fugiram do país vizinho nos últimos três anos, o Governo Federal iniciou, em abril, o processo de "interiorização". Criado como alternativa para reduzir o impacto social desse grande fluxo de imigrantes, o programa prevê o deslocamento de parte desse contingente a outras regiões brasileiras. Mais de 4 mil imigrantes já foram levados a diversos estados após aderir voluntariamente ao processo.

O G1 conta como eles vivem agora no Amazonas, na Bahia, no Distrito Federal, no Mato Grosso do Sul, na Paraíba, no Paraná, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul.

A maioria não está trabalhando. É comum que tenham de recorrer a subempregos – poucos conseguem carteira assinada. A falta de compatibilidade de diploma do curso superior é outro empecilho. Muitos relatam ainda dificuldades de comunicação, por não entenderem a língua. Diversas famílias foram separadas, e muita gente diz sentir saudade de casa. Falam também que possuem pouco ou quase nada, por terem vindo só com a roupa do corpo.

Apesar disso, descrevem que a vida está melhor que na Venezuela. E com uma estrutura mais adequada que a de Roraima. Desde 2015, o estado vem sofrendo com o número crescente de imigrantes que cruzam a fronteira e ficam por lá.

Os venezuelanos que participam da interiorização são os que estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica, dependem de ajuda do governo e estão em abrigos de Roraima. De acordo com a Casa Civil, responsável pelo processo, todos os interiorizados têm documentação como CPF e carteira de trabalho, são vacinados, fazem exames médicos e aceitam participar voluntariamente da viagem.

A Venezuela enfrenta um colapso econômico, com a maior crise política e social de sua história. O país passa por uma recessão e vê um êxodo de moradores que sofrem com a pobreza e a fome.

A maioria dos que vêm ao Brasil chega pela fronteira à cidade de Pacaraima (RR). Em Roraima, os imigrantes concentravam-se sobretudo na capital do estado, Boa Vista, com impacto enorme nos serviços públicos. A cidade, que em fevereiro tinha 40 mil venezuelanos, passou a conviver com praças ocupadas, abrigos lotados e casas habitadas por dezenas de moradores.

Autoridades locais, então, pediram "socorro" ao Governo Federal. Finalmente, em 5 de abril, começou a interiorização, com um voo que levou 116 imigrantes a São Paulo.

A Polícia Federal informa que, entre 2015 e novembro deste ano, recebeu mais de 62 mil pedidos de refúgio e 24 mil de residência temporária em Roraima.

No final de agosto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informou que, ao longo de 2018, 10 mil venezuelanos chegaram ao Brasil. Pelas contas do órgão, havia naquele momento 30,8 mil imigrantes do país vizinho vivendo por aqui.

Com o cenário agravado por essa crise social e outra no sistema prisional, foi aprovada a intervenção federal em Roraima, que teve início em 10 de dezembro.

Com relação ao futuro das relações entre Brasil e Venezuela, vale lembrar que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, sempre foi um crítico contundente do regime bolivariano no país vizinho, desde a gestão de Hugo Chávez. E Bolsonaro intensificou as críticas com Nicolás Maduro, que não foi convidado para a posse.

Apesar disso, no dia seguinte à vitória de Bolsonaro nas urnas, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, disse que Maduro fazia um apelo ao presidente eleito para que retomasse "o caminho das relações diplomáticas de respeito" com a Venezuela.

A passagem pelo Brasil
Mesmo sendo o maior país da América Latina e vizinho a Venezuela, o Brasil está longe de ser um dos principais destinos da diáspora venezuelana, que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), já chegou aos 3 milhões.

G1 // AO