Política

Sem Haddad, PT reúne Diretório Nacional em meio à divisão interna

Sem Fernando Haddad, que está em viagem pelos Estados Unidos, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, comanda um encontro do Diretório Nacional do partido

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Pela primeira vez após a eleição de Jair Bolsonaro para Presidência da República, o PT se reuniu na manhã desta sexta-feira, 30, em Brasília, num clima de divergências em razão dos rumos tomados pelo partido.

Sem Fernando Haddad, que está em viagem pelos Estados Unidos, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, comanda um encontro do Diretório Nacional do partido para discutir a aprovação de uma nova resolução sobre a conduta da legenda a partir de agora.

Mas até mesmo a realização desse encontro está longe de ser uma unanimidade. Dirigentes do PT criticam, em condição de anonimato, a iniciativa de aprovar, neste momento, documento que determine qual será a forma de atuar dos petistas diante do novo governo. Nas palavras de um dos parlamentares do partido, o novo governo nem se formou ainda e, portanto, não se sabe ao certo como será a forma de atuar de Bolsonaro à frente do Palácio do Planalto.

Esse tipo de discussão foi um dos pontos da reunião realizada anteriormente pela corrente majoritária do partido, a CNB (Construindo Um Novo Brasil). Na análise de parte desse grupo, se passaram apenas 30 dias desde o fim do segundo turno e é cedo para determinar qual o melhor jeito de fazer oposição a Bolsonaro. Outro membro dessa corrente disse que a reunião do Diretório a esta altura serve apenas para Gleisi reafirmar seu poder interno.

No documento preliminar, ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, e que servirá de base para a reunião, o partido tenta demarcar diferenças em relação a outros setores da centro-esquerda. A legenda promete, por exemplo, "oposição global" ao governo eleito, alfineta setores da esquerda que se recusaram a apoiar Fernando Haddad no segundo turno da disputa presidencial, mas admite que opositores de diferentes matizes podem "coexistir".

Embora não cite nominalmente Ciro Gomes, trechos do texto foram feitos sob encomenda para o candidato derrotado do PDT quando fala dos setores que se omitiram no segundo turno. "Somam-se a eles políticos oponentes ao golpe, que duvidavam da força do PT, imaginavam chegar ao segundo turno e, frustrados, tentam 'culpar' nosso partido pela performance obtida", diz o documento.

"A campanha contra o PT visa, em parte, adubar o terreno para algumas pretensas candidaturas às eleições de 2020 e 2022. Outro objetivo declarado é afastar o PT da linha de frente da oposição a Bolsonaro", completa.

O texto, elaborado por uma comissão composta por integrantes de todas as correntes petistas, faz o balanço e aponta as prioridades do partido para o próximo período. Segundo o documento, o PT vai atuar em duas frentes. A primeira, popular, em defesa de direitos sociais e trabalhistas. A segunda, democrática, contra possíveis retrocessos na área dos direitos civis.

A autocrítica, cobrada por setores da centro esquerda e alas do próprio PT, se resume aos erros políticos dos governos petistas, em especial o da ex-presidente Dilma Rousseff, e não admite falhas no campo ético.

Ao contrário, quando fala em corrupção o documento preliminar usa o tema como pretexto para perseguição ao partido. "A defesa do PT, em particular, exigirá um trabalho profissional de 'reconstrução da imagem'. Fomos vítimas de uma campanha de terrorismo cultural (…) Nesse sentido, merece especial atenção o tema da corrupção (…) cabe ao PT combater as campanhas hipócritas e difamatórias contra o partido", diz o texto.

A reunião do Diretório do PT deve durar todo este sábado e continuar também no domingo, 1º, em hotel na capital federal. Além de Gleisi Hoffmann, participam do encontro lideranças como a ex-presidente Dilma Rousseff, o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner, e o deputado federal eleito Rui Falcão, além de senadores e deputados da sigla.

Na chegada ao encontro, Dilma concedeu entrevista à TeleSur, rede de televisão multi-estatal criada pelos governos de Venezuela, Argentina, Cuba e Uruguai, e defendeu o programa Mais Médicos. Isso porque, recentemente, o governo cubano decidiu convocar de volta os médicos que integravam o programa no Brasil, devido às declarações de Bolsonaro que questionam os termos do acordo assinado entre o País e o governo da ilha.

Estadão // AO