Oito postos de saúde do município de Barreias, na região oeste da Bahia, onde apenas médicos cubanos trabalhavam, suspenderam o atendimento à população, nesta semana, após a saída dos profissionais.
Os cubanos deixaram as unidades depois que o governo de Cuba anunciou que os médicos do país não participariam mais do programa Mais Médicos, do governo federal brasileiro, na última semana. Os médicos já começaram a deixar o estado.
Uma das unidades de Barreiras que suspenderam o atendimento foi o posto de saúde Clara Cecília, que fica localizado no bairro Vila Rica, em Barreias, no oeste da Bahia. O único cubano que trabalhava no local foi dispensado na terça-feira (20).
Quem foi até o posto na manhã desta quarta-feira (21) teve que voltar para casa sem ser atendido. Do lado da porta da unidade de saúde, um cartaz foi colocado com a seguinte mensagem: "A partir de hoje, não terá mais atendimento médico e isso é por tempo indeterminado".
A ajudante de cozinha Thais Tavares foi pega de surpresa. "A gente precisa muito do atendimento médico e só está tendo a enfermeira. Aí fica muito ruim. E as pessoas que não têm condições, né?", disse.
No posto de saúde Antônio Lúcio Peixoto, que fica na Vila Rica, também não há mais atendimento desde a segunda-feira (19). No local, atuava uma médica de Cuba, que também foi embora. Os moradores que dependem o posto de saúde dizem não saber o que fazer.
"Tenho um exame para mostrar, tenho cirurgia para marcar. E está difícil para marcar. Você não imagina o tanto de exame que a gente deixa aqui e demora, e demora para marcar. Já tem mais de 3 meses. E agora sem médico. A gente vai fazer o quê?", questiona a dona de casa Lusinete da Silva.
Cubanos na Bahia
A Bahia, que abrigava 10% do total de médicos cubanos do Mais Médicos hoje no país, é o segundo estado que mais perdeu profissionais — fica atrás apenas de São Paulo, que tinha 16% de todos os médicos de Cuba hoje no país.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), a Bahia possuía 1.522 médicos estrangeiros, alocados em 363 dos 417 municípios. Deste total de profissionais, 846 são cubanos, que estão distribuídos em 317 municípios — há médicos também de países como México, Espanha e Angola.
Os cubanos atendiam, diariamente, 20,4 mil pessoas no estado — 326 mil mensalmente e 3 milhões anualmente.
Dez cidades baianas, todas com menos de 40 mil habitantes, devem ficar sem nenhum médico para atendimento na assistência básica com a saída deles. Isso porque, nessas cidades, somente cubanos atuam. São elas:
Apuarema (3 médicos)
Central (6)
Correntina (8)
Itagibá (3)
Lafaiete Coutinho (2)
Lajedão (2)
Nova Itarana (3)
Nova Soure (5)
Palmeiras (4)
Pedro Alexandre (6)
Do total de municípios que contam atualmente com o programa Mais Médicos na Bahia, em 99, o número de médicos cubanos representa mais de 50% do total de profissionais da atenção básica. Ainda conforme dados do governo local, 17 comunidades indígenas também ficarão sem assistência em todo o estado.
A Sesab aponta que a retirada antecipada dos médicos representa "grave ameaça para municípios baianos". Diz que, ao longo de cinco anos de existência do programa, mais de 5,6 milhões de pessoas foram beneficiadas, cerca de 800 mil consultas realizadas por mês, com uma cobertura de 72% da atenção básica.
No ranking de cidades que vão perder o maior número de cubanos, mas ainda manterão médicos na assistência básica, Teixeira de Freitas, na região sul, aparece no topo. A cidade perderá 18 profissionais cubanos.
G1 // AO