Em meio a um cenário de polarização política e até de descrédito em relação ao processo eleitoral, uma ação procura mobilizar eleitores e candidatos em torno do uso do voto como ferramenta para combater as desigualdades sociais.
A campanha Igualdade Tem Voto foi lançada em agosto passado em São Paulo pelo coletivo Faz Diferença? e tem como objetivo dar visibilidade ao tema nas eleições deste ano. Focada em promoção e debate de políticas públicas, a ação oferece a eleitores e candidatos uma plataforma para defender o combate às desigualdades -antes e depois das eleições.
No ambiente virtual, os dois grupos são convidados a usar a hashtag #IgualdadeTemVoto como forma de mostrar comprometimento com a campanha.
"O maior problema do Brasil hoje é a desigualdade. Nosso movimento é baseado nessa tentativa de falar de políticas públicas [contra a desigualdade] a partir de dados e análises técnicas. E também busca dar opção para as candidaturas encamparem [as propostas]", afirma Tamara Ilinsky, integrante do coletivo.
Para tal, a campanha reúne uma série de propostas, elaboradas a partir de debates e consultas a especialistas, organizadas em cinco eixos —Segurança, Saúde, Educação, Renda e Democracia. Todas elas são de cunho progressista e tendem a ser mais abraçadas por candidaturas e eleitores de esquerda e centro-esquerda —de investimentos em saneamento básico e ampliação de vagas em creches à defesa do fim da PEC do Teto de Gastos e da legalização do aborto.
Esse recorte ficou evidente em um dos eventos promovidos pelo coletivo, na Câmara Municipal de São Paulo, na último dia 19, acompanhado pela reportagem. Entre os participantes, em sua maioria estavam candidatos e pessoas ligadas a candidaturas a deputado federal e estadual pelo PSOL, com menor presença de outros partidos da esquerda e do centro —PC do B, PSB, PSDB e PSD.
"Somos apartidários, mas claramente temos um lado. Nossas políticas são propostas progressistas, e quando você fala em legalização do aborto você tem um lado, você está defendendo uma pauta que é clara", pontua Tamara.
Mesmo com a tendência mais à esquerda, o Faz Diferença? Crê que candidatos de outras legendas mais ao centro e à direita também possam aderir às propostas, ainda que com menor intensidade.
"Do nosso ponto de vista, qualquer político pode ser contra as desigualdades, porque isso pode estar dentro de qualquer política pública", diz Ivan Mardegan, que também integra o coletivo.
O diálogo com o eleitor é considerado um desafio para o coletivo, especialmente diante da polarização política e da descrença por parte considerável do eleitorado. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 14 apontou que 13% dos entrevistados se dizem dispostos a anular seu voto ou votar em branco para presidente —o maior índice em 16 anos.
Para Arthur Fisch, outro integrante do Faz Diferença?, esse dado é oportunidade a ser aproveitada e que vai além das eleições. "A ideia é gerar um engajamento maior das pessoas não a partir da política eleitoral, mas a partir da política do dia a dia".
Bn // AO