A colaboração do delator Jorge Henrique Marques Valença, ex-superintendente regional da Galvão Engenharia, já foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Parte do conteúdo foi revelada nesta terça-feira (25) pelo jornal "O Globo".
A reportagem diz que o delator afirmou que pagou em 2012 ao menos R$ 1 milhão em propina ao atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), em troca da liberação de recursos em obras contra a seca.
Em nota (leia a íntegra mais abaixo), a assessoria do senador apontou "falso testemunho", acrescentando que Eunício processará seus acusadores.
A delação
Valença falou sobre uma conversa com o então secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Cesar Pinheiro, quando foi cobrar a liberação dos R$ 18 milhões para a obra da Barragem Figueiredo.
O jornal "O Globo" reproduziu um trecho do depoimento. Valença disse que se dirigiu à sala de Cesar Pinheiro, que lhe informou que os R$ 18 milhões não seriam liberados sem que antes ele pagasse o valor de R$ 2,5 milhões.
Disse também que Cesar Pinheiro disse: "O Eunício, senador Eunício Oliveira, me mata se ficar sabendo que eu autorizei um pagamento desse sem uma participação para nós. Não dá para passar um valor desses na minha secretaria sem nenhuma participação."
O delator contou, então, que não tinha como pagar e diz ter ouvido de Cesar Pinheiro: "Você que se arrume com o governador".
Obra
A obra executada pela construtora estava a cargo do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
O delator diz que o Dnocs era um reduto de influência de Eunício e outros políticos do MDB e que teve reuniões com pessoas que se apresentavam como operadores deles.
Em outro trecho da delação, reproduzido pelo jornal "O Globo", o delator diz que procurou, no Dnocs, o empresário Enio Éllery.
Disse também que Éllery afirmou que a prática era pagar entre 8% e 7% do valor a receber. Mas que poderia abrir execeção e a construtora poderia pagar 5%.
O delator disse que participou de reuniões com Enio Éllery e uma pessoa chamada Cecil. Também disse que Éllery e Cecil afirmavam que os valores arrecadados seriam partilhados num primeiro momento entre Eunício Oliveira, o ex-deputado Henrique Alves e o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Acrescentou que, posteriormente, Enio Éllery informou que Fernando Bezerra Coelho teria sucedido Geddel como beneficiário de seu percentual de 1,66% quando assumiu o Ministério da Integração Nacional em janeiro de 2011.
Versões
Leia abaixo a íntegra da nota enviada pela assessoria de Eunício Oliveira:
O senador Eunicio Oliveira processará criminalmente acusadores que levantam falsos testemunhos contra ele em seus relatos.
Muitas delações carecem de provas que as sustentem e várias estão sendo anuladas pela Justiça. O Senador não conhece os delatores.
As doações de empresas ao PMDB, feitas na forma da lei e quando isso tinha abrigo em nosso sistema político-partidário, estão todas declaradas ao TSE e aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Assessoria de imprensa
Senador Eunicio Oliveira
À TV Globo, a assessoria de Henrique Alves negou que ele tenha recebido vantagem indevida oriunda de obras do Dnocs.
A defesa de Fernando Bezerra Coelho disse o Jornal Nacional que ele está confiante na Justiça e que inquéritos com base nas palavras de colaboradores são meras suposições e serão arquivados.
Procurado pela TV Globo, o MDB afirmou que não vai comentar o assunto.
O Jornal Nacional não localizou as defesas de Enio Éllery, Cesar Pinheiro e do Dnocs.
O Jornal Nacional não recebeu resposta da defesa de Geddel.
G1 // AO