Ao sair do campo em Moscou no jogo contra a França e ver o título de campeão do mundo escorregar entre os dedos, o croata Luka Modric não disfarçava a frustração: ele havia sido escolhido como o melhor jogador da Copa do Mundo e a imprensa já o questionava como era se sentir como o provável vencedor do prêmio de melhor atleta do mundo em 2018. Mas o volante não parecia se animar. “Meu objetivo era ser campeão do mundo. Não tenho nenhuma obsessão com títulos pessoais”, disse.
Mas é curiosamente dos pés desse jogador que insiste que não tinha os prêmios pessoais como meta que um dos reinados mais longos da história do futebol e um dos duelos mais intensos entre dois astros pode chegar ao final: o de Lionel Messi e de Cristiano Ronaldo.
Pouco mais de dois meses depois daquela final, Modric volta ao centro das atenções nesta segunda-feira, em Londres. Desta vez, o croata é um dos três finalistas da Fifa para ficar com o troféu The Best, reservado ao melhor jogador da temporada 2017/2018.
Na corrida pelo prêmio ainda estarão Cristiano Ronaldo, vencedor do título de melhor do mundo por cinco vezes, e Mohamed Salah, o egípcio do Liverpool e que chacoalhou com o Campeonato Inglês na temporada passada. O evento ainda marca onze anos sem o troféu para um brasileiro.
Para ex-jogadores, treinadores e comentaristas, o evento de 2018 é o primeiro em que existe uma real chance de acabar com um duelo particular entre Messi e Cristiano Ronaldo. Juntos, eles levaram todos os prêmios desde 2008 e “sequestraram” o evento que, no fundo, nem sequer fazia mais sentido para o restante dos jogadores espalhados pelo mundo.
Agora, pela primeira vez em onze anos e já entrando na fase final de sua carreira, Messi ficou fora até do pódio, apesar de ter sido o maior artilheiro da Europa na temporada 2017-2018 e de ter levado mais um título do Campeonato Espanhol. Ele vinha ocupando o palco desde 2007, quando ficou em segundo lugar numa premiação que escolheu Kaká como o melhor do mundo. No total, ele ganhou o troféu em cinco ocasiões, recorde que compartilha com o português, agora na Juventus.
Cristiano Ronaldo ainda espera vencer a edição de 2018 para, provavelmente, se estabelecer como o jogador com o maior número de troféus individuais da história. Uma eventual vitória do atacante ainda marcaria uma virada inédita e encerraria uma obsessão que marcou a carreira do português: mostrar ao mundo que é melhor do que o rival argentino.
Por essa meta pessoal, ele nunca desistiu. Ao chegar no evento de 2013, por exemplo, o placar de títulos estava 4 x 1 para Messi. Para 2018, o português saiu da final vitoriosa da Liga dos Campeões certo de que havia conquistado, ali, mais um troféu de melhor do mundo e um lugar garantido como o mais premiado da história.
Mas, ironicamente, o adversário em 2018 não será seu tradicional rival argentino, e sim seu parceiro croata de títulos da Liga dos Campeões. A ameaça ao reinado de Messi e Cristiano Ronaldo já tinha mandado um alerta em agosto. A Uefa deu o prêmio de melhor da Europa para Modric. A derrota enfureceu o português e seus assessores, que chegaram a chamar o resultado de “ridículo”.
O staff do Real Madrid, a torcida e jogadores como Sérgio Ramos e Casemiro saíram em apoio ao croata que, nos últimos anos, passou por uma transformação entre um ótimo jogador para um ícone de um futebol técnico e elegante.
Para o argentino Jorge Valdano, Modric merece o prêmio desta temporada. “Se ele não vencer agora, seria uma injustiça equivalente ao que se cometeu com Xavi ou Iniesta, no auge de suas carreiras”, disse o ex-jogador. Zico concorda. “O que o diferencia é sua visão e sua habilidade de sair de situações impossíveis com a bola”, declarou o brasileiro, ao site da Fifa.
Graças ao voto popular que conta 25% da pontuação final, a Fifa ainda pode ver uma surpresa com Salah, herói nacional no Egito e jogador que tem recebido o amplo apoio do mundo muçulmano. O desempenho fracassado de sua seleção na Copa – caiu na primeira fase -, porém, pode pesar na decisão final.
Em Londres, todos querem saber se o reinado que marcou o futebol mundial chegou ao final. Mas, entre os dirigentes e os demais jogadores, o sentimento é de que dificilmente uma dupla conseguirá reviver a dimensão da disputa que os dois jogadores tratavam na última década. E ninguém jamais questionará o status de Messi ou Cristiano Ronaldo como dois dos melhores da história.
Estadão // AO