Há quatro anos, uma mãe brasileira conseguiu na Justiça o direito de importar para seu filho o Canabidiol, um remédio que é derivado da cannabis sativa, nome científico da maconha.
Esse era o único medicamento capaz de controlar as crises convulsivas diárias do menino. Foi assim que começou a história da Medical Marijuana com o Brasil.
O grupo americano controla diversos negócios a partir do uso da planta.
A HempMeds é a responsável pelo Canabidiol e tem subsidiárias no Brasil e no México. A Kannalife Sciences se dedica à pesquisa de novos tratamentos. A Kannaway vende produtos como óleos terapêuticos e vaporizadores. A mais nova é a Phyto Animal Health, que faz remédios para acalmar bichos de estimação.
O porte da empresa ainda é modesto, mas o crescimento é forte: no segundo trimestre deste ano, as receitas cresceram 40%, para US$ 15 milhões (R$ 62,1 milhões).
O grupo trabalha só com o canabidiol (CBD) componente da maconha com propriedade terapêutica.
O outro componente da erva, responsável pelos efeitos psicoativos, é o tetrahidrocanabinol (THC).
Com a liberação da importação do medicamento, a empresa abriu uma subsidiária no Brasil, que basicamente faz a sua representação –no país, não é permitido o comércio ou plantio de maconha nem mesmo para fins terapêuticos.
O trabalho é de formiguinha, diz Caroline Heinz, vice-presidente da HempMeds.
"Nós conversamos com médicos, organizamos eventos e tentamos esclarecê-los sobre os efeitos benéficos do tratamento. Um primeiro passo para ajudar na popularização do uso aqui é o contato com essa comunidade", diz.
Em dezembro de 2017, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que o CBD não causa dependência e que, nos últimos anos, reuniu robustas evidências científicas de estudos com animais e humanos que mostram que o uso pode ter valor terapêutico para convulsões causadas por epilepsia.
A HempMeds indica o uso, com resultados positivos em maior ou menor grau e sem contraindicações, para os tratamentos de autismo, Parkinson, Alzheimer e epilepsia.
Mas a burocracia ainda é grande. Para comprar o produto aqui é preciso passar pelos trâmites de importação e de receita médica para justificar o uso. O remédio chega ao Brasil com um custo alto.
Segundo o presidente da Medical Marijuana, Stuart Titus, o apoio dos brasileiros tende a ser a parte mais fácil.
"As pessoas aqui são muito mais abertas ao consumo de um medicamento natural como esse. Também vejo a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] da mesma forma. Nos Estados Unidos, a autoridade de saúde é muito mais favorável aos produtos sintéticos", afirma.
A empresa quer vender tanto medicamentos que precisam de receita quanto outros que podem ser vendidos nos balcões das farmácias.
Os esforços, porém, serão centrados em produtos menos polêmicos, como os de uso tópico: como pomadas usadas no combate a dor e inflamações.
"Infelizmente, no Brasil, para acessar nossos produtos, as pessoas precisam ficar doentes primeiro", afirma.
O esforço das companhias do setor é para que o produto deixe de ter uma fama ruim.
"A vitamina C demorou 50 anos para ser receitada como uma vitamina. Esperamos que, no futuro, a maconha também seja receitada como uma espécie de vitamina, para consumo diário", diz Titus.
As restrições para o uso da maconha existem no mundo todo pelo fato de a planta estar incluída em lista de drogas mundialmente reconhecida.
Nos EUA, 30 estados (cerca de dois terços do total) liberaram a maconha medicinal, com base no CBD; e nove (quase 20% do total) para fins recreativos. No entanto, não existe autorização para o uso da maconha por uma lei federal.
Hoje, o mercado global da maconha movimenta US$ 30 bilhões (R$ 124,2 bilhões), segundo Titus. Os produtos com CBD representam cerca de 1% disso.
A expectativa é que, quando as pessoas estiverem mais educadas sobre o uso medicinal da maconha, o percentual possa subir para cerca de 30%.
Folhapress // ACJR