A combinação entre cautela e especulação levou o dólar a galgar novo patamar nesta segunda-feira, 20, atingindo o seu maior valor em quase dois anos e meio. A escalada ocorreu em meio à liquidez bastante reduzida, com investidores repercutindo o quadro eleitoral adverso. O dólar negociado no mercado à vista terminou o dia com alta de 1,10%, cotado a R$ 3,9571. É o maior valor da moeda americana desde 29 de fevereiro de 2016 (R$ 3,9984). Na máxima do dia, a cotação chegou aos R$ 3,97, o que trouxe às mesas de negociação rumores de intervenção do Banco Central. Os negócios com o “spot” somaram US$ 521,6 milhões, aproximadamente metade de um dia considerado normal.
“Os rumores de intervenção do BC surgem naturalmente, uma vez que a própria autoridade monetária é quem afirma que deixará o dólar flutuar, mas poderá atuar toda vez que perceber distorção nos preços”, disse Ricardo Gomes da Silva, diretor da Correparti.
O profissional afirma que alguns investidores tiveram de dar ordens de “stop loss” (interrupção de perdas) após a divulgação da pesquisa MDA/CNT, divulgada pela manhã. Em linhas gerais, o levantamento mostrou pouca alteração no quadro já conhecido, com Lula e Bolsonaro liderando as intenções de voto. O desconforto veio da constatação da estagnação do candidato afinado com o mercado, o tucano Geraldo Alckmin, enquanto o petista Fernando Haddad desponta como maior herdeiro dos votos de Lula. Assim, desenhou-se no mercado a ideia mais firme de um segundo turno formado por Bolsonaro e Haddad.
A agenda do dia reserva outra pesquisa, desta vez do Ibope, que será divulgada ainda nesta segunda-feira. A expectativa por esse levantamento foi importante fator de cautela no período da tarde, levando o dólar a renovar máximas nesse período. Na quarta-feira será a vez do Datafolha divulgar pesquisa de intenção de voto. Segundo analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, esses dois levantamentos, por terem sido feitos por institutos maiores, têm potencial para acalmar o mercado ou elevar ainda mais a tensão nos negócios ao longo da semana.
O gerente de câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel, explica que o baixo volume de negócios ocorreu porque potenciais vendedores optaram por segurar seus recursos, por acreditarem que há potencial para novas altas, ao mesmo tempo em que os compradores buscaram aguardar uma melhora dos preços. Nessas duas pontas, as atenções estão concentradas nas pesquisas eleitorais. A possibilidade de intervenção do BC, por meio de leilões de swap cambial ou linha, como foi feito em junho, seria outro fator a favorecer a recuperação do real.
Estadão Conteúdo // AO