Política

MDB transformou tragédia venezuelana em politicagem, diz governadora de Roraima

Em campanha à reeleição, Suely Campos diz que sofre com omissão federativa e que adversários querem manter caos no estado.

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Quatro anos após ser eleita sob a sombra do marido —segundo ele próprio—, o ex-governador Neudo Campos, a governadora de Roraima Suely Campos (PP) tenta a reeleição sob a justificativa de que agora tem um legado próprio para defender.

Boa parte de seu discurso, no entanto, é de antagonismo ao que diz ter prejudicado sua gestão: a onda migratória venezuelana, as respostas do governo federal para essa crise e o adversário da família, o senador Romero Jucá (MDB), que ela diz ter a intenção de “manter o caos” no estado.

“A crise se concentra em Roraima e o Brasil fechou os olhos para essa tragédia social”, afirma, em entrevista por email à Folha. 

“O que o governo federal está fazendo com a fronteira livre, sem nenhum empecilho inclusive para os criminosos, é um estelionato de imagem de escala mundial”, critica.

Em sua gestão, Suely chegou a editar um decreto que restringia serviços públicos a venezuelanos e pedir à Justiça o fechamento temporário da fronteira. As duas medidas tiveram decisões contrárias do STF.

Suely, que substituiu Neudo a menos de um mês do primeiro turno, quando ele foi barrado pela Lei da Ficha Limpa, afirma que a população já sabe fazer a distinção entre ela e o marido, que foi condenado por peculato atualmente recorre em prisão domiciliar.

“Estamos vivendo agora o governo Suely e eu vou para eleição defendendo o meu legado”, diz.

 

Fronteira aberta

Somos nós, roraimenses, que estamos convivendo há três anos com essa crise humanitária na nossa casa. A crise se concentra em Roraima e o Brasil fechou os olhos para essa tragédia social.

O que o governo federal está fazendo com a fronteira livre, sem nenhum empecilho inclusive para os criminosos, é um estelionato de imagem de escala mundial. Quer afirmar uma posição humanitária inexistente, pois tanto os brasileiros como os venezuelanos estão largados à própria sorte. Não fosse o atendimento prestado pelo nosso governo e o acolhimento solidário do nosso povo, muitos venezuelanos teriam morrido de fome e de doenças. 

Enfrentamos essa crise desde 2015 e o governo federal só aportou aqui com sua Operação Acolhida em fevereiro. É uma ação tímida e de pouca efetividade, que oferece comida e abrigo a 4.000 venezuelanos, mas as ruas de Boa Vista continuam tomadas por crianças, mulheres e idosos na mendicância.

Venezuelanos e eleições

É evidente que estamos falando de um tema importante nas eleições deste ano não só para governador, mas para presidente e todos os cargos que estão em disputa. Os eleitores roraimenses estão atentos ao que pensam os presidenciáveis, já que esse é um problema cuja solução é de alçada federal.

Depois que entramos com essa ação no STF pedindo o fechamento temporário das nossas fronteiras, os candidatos da oposição tiveram que endossar a nossa posição.

Crise financeira

O agravamento da crise migratória minou todos os investimentos que o estado vinha fazendo. Se na sua casa moram cinco pessoas e, de repente, chegam mais duas, precisando de tudo, a comida vai acabar antes, a conta de luz e de água vão aumentar, e se você não tiver uma renda extra para atender essa nova demanda, vai faltar comida, a luz vai ser cortada. Todos vão ser afetados. É o que estamos vivendo aqui em Roraima.

O presidente Michel Temer me recebeu diversas vezes no Palácio do Planalto e no Alvorada. Conversamos reservadamente nas duas vezes que ele esteve aqui no Estado este ano e, em todas as ocasiões, garantiu que não abandonaria o povo de Roraima. Pedimos R$ 184 milhões para comprar remédios, materiais para realizar cirurgias, aparelhar nossas polícias, e garantir educação para alunos estrangeiros.

É uma quantia significativa para Roraima, mas irrisória para a União. A intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro foi orçada em R$ 3,2 bilhões e os recursos estão sendo alocados como crédito extraordinário.

É notória a omissão e o tratamento diferenciado dado a Roraima e isso só se justifica pela intenção do senador Romero Jucá de manter o caos no nosso Estado. Se tem alguém que transformou essa tragédia social em politicagem foi esse senador e seus apoiadores do MDB.

Solução

A solução é o governo federal assumir sua responsabilidade nessa crise. Isso está muito claro na ação que ingressamos no STF. Nosso pedido principal é que a União faça o efetivo controle policial, de imigração e sanitário da fronteira e também que compense os gastos já efetuados pelo Estado para atender os imigrantes e que aporte recursos extras para financiar os impactos na saúde, na educação e na segurança pública decorrentes do atendimento a imigrantes. São atribuições constitucionais da União.

Marido

Neudo Campos tem um legado importante na política de Roraima. É natural que em um primeiro momento, quando assumi a candidatura ao governo em 2014, o vínculo com a marca que Neudo Campos deixou no estado era muito forte.

Uma vez eleita, fiz questão de saber separar as coisas. Estamos vivendo agora o governo Suely e eu vou para a eleição defendendo o meu legado.

Folhapress // ACJR