Em Cabo Verde para a reunião dos líderes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), o presidente Michel Temer teve um encontro reservado com seu homólogo cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, em que pediu mais atenção para o caso dos velejadores brasileiros presos no país.
Em um processo controverso, a Justiça de Cabo Verde condenou três velejadores brasileiros a dez anos de prisão por tráfico de drogas. Durante o julgamento, as autoridades africanas não consideraram a avaliação da Polícia Federal brasileira, que indica fragilidades na acusação contra os rapazes.
“Eu dei uma palavra [com o presidente de Cabo Verde] sobre os brasileiros que estão detidos aqui. Claro, com todas as cautelas diplomáticas, para dizer que esta é uma questão que diz respeito ao Estado cabo-verdiano”, disse Michel Temer, na saída do encontro, realizado pouco antes da abertura da cúpula da CPLP.
“Nós do Brasil temos o direito de patrocinar, digamos assim, a defesa destes brasileiros. Sem entrar naturalmente no mérito [da culpa dos velejadores]”, completou.
O presidente, no entanto, negou que tenha feito um apelo pelos brasileiros detidos. Temer classificou sua manifestação como “uma lembrança [aos cabo-verdianos] que estamos preocupados com isso”.
Em agosto de 2017, após receber uma denúncia anônima, a polícia de Cabo Verde encontrou mais de uma tonelada de cocaína o veleiro Rich Harvest, que fazia uma parada no país antes de seguir viagem para Portugal.
A droga, avaliada em cerca de € 200 milhões (R$ 894 milhões), estava escondida no chão da embarcação, embaixo de uma cobertura de cimento.
Contatados por uma empresa de recrutamento europeia para transportarem o veleiro do nordeste brasileiro até o arquipélago dos Açores, em Portugal, os baianos Rodrigo Dantas, 25, e Daniel Dantas, 43 (que apesar do sobrenome não são parentes), e o gaúcho Daniel Guerra, 25, acabaram processados por tráfico internacional de drogas.
Os três negam participação no crime e dizem que foram enganados por uma quadrilha.
O proprietário do veleiro, o inglês George Saul, conhecido como Fox, que não embarcou com a tripulação, está foragido.
Em março de 2018, os três foram condenados a dez anos de prisão pelo crime.
Inconformados com a decisão e na tentativa de reverter um julgamento que eles classificam como enviesado, os país de Rodrigo Dantas estão em Cabo Verde para acompanhar o caso.
“Minha mulher veio em setembro. Eu vim em fevereiro e fiquei até abril. Agora retornei e estou desde junho. Estamos nos mantendo aqui com recursos próprios, mas com muita dificuldade. Minha profissão agora é resgatar meu filho Rodrigo”, resume João Dantas.
Folhapress // ACJR