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CEO da GE preso pela Lava Jato diz que havia 'esquema' em licitações do Rio

Ele afirmou que concorrentes foram beneficiados.

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Preso temporariamente na Operação Ressonância, o ex-executivo da Philips e atual CEO da General Eletrics (GE) para a América Latina, Daurio Speranzini Júnior, afirmou em depoimento que havia “direcionamento” nas licitações na Saúde do Rio, confirmou a existência de um “esquema” durante seu período na Philips e acusou concorrentes. Ele não assumiu, porém, que tenha participado das irregularidades, como suspeita a Força Tarefa da Lava Jato no Rio.

Em depoimento à Polícia Federal (PF) prestado ontem em São Paulo, ele afirmou ser “muito claro” que havia um direcionamento nas licitações para empresas relacionadas com a marca Oscar Iskin, do empresário Miguel Iskin, apontado pela Força Tarefa da Lava Jato como mentor do cartel que fraudaria licitações na Saúde do Rio.

Apesar de a Lava Jato afirmar que o executivo “permaneceu com as práticas ilícitas” após entrar na GE, o depoimento a que o G1 teve acesso foi focado especialmente na atuação dele na Philips.

Speranzini Júnior e Iskin foram presos ontem, dentro da operação que investiga fraude em licitações que movimentaram mais de 1 bilhão de reais na Secretaria Estadual de Saúde do Rio e do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO).

Daurio disse que, quando era da Philips, havia “pressões de todos os lados” para entrar no “esquema”. E que teria sido até ameçado, quando recebeu um telefonema e ouviu que seria “fácil saber onde seus filhos estudam.”

O CEO da GE disse que, na antiga empresa, havia uma “comissão”, registrada em contrato, paga para terceiros intermediarem vendas para órgãos públicos, o que, “acredita”, não acontecia nas vendas da empresa no exterior. Ele contou, no entanto, que o pagamento era feito apenas em 10% dos casos.

Speranzini Júnior negou ter pago propina ou ter cedido às pressões. Concorrentes, no entanto, teriam sido beneficiadas. O CEO da GE para a América Latina disse “era claro” o direcionamento nas licitações para empresas específicas, como a Siemens – que não é investigada, até agora, nesta fase da Lava Jato.

Dossiê contra denunciante
Na casa do executivo, foi encontrado, ontem, um “dossiê” contra José Israel Masiero Filho. No depoimento, a PF quis saber do que se tratava. O CEO da GE disse que pediu o levantamento a um amigo “ex-policial federal”, Carlos Toschi Neto.

A ideia seria “simplesmente” aplacar a “ansiedade” em descobrir quem seria Masiero Filho, que, supostamente, o teria acusado de irregularidades em outra investigação conduzida pela PF de São Paulo, “que trata dos mesmos fatos investigados” agora. Feito o dossiê, ele disse que lembrou do sujeito. Ele disse que “acredita” que as informações levantadas eram públicas.

Por fim, os policiais quiseram saber o que seria uma anotação encontrada em sua residência, em que constava a palavra “propina”. Speranzini Júnior disse que o item fazia parte de uma lista, feita antes de um outro depoimento, em que o próprio elencou quais acusações tinham sido feitas por Masiero Filho.

Defesas
Segundo o MPF, a Ressonância investigou conglomerados que atraíram empresas fornecedoras e formaram cartel para direcionar as compras de equipamentos médicos. Para tal, agiam para manter a direção no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).

Segundo as investigações, o ex- governador Sérgio Cabral e o então secretário, Sérgio Cortes, comandaram o desvio de R$ 300 milhões em contratos fraudados com a participação de empresários que forneciam próteses para o Into. O desvio total do esquema investigado pela operação pode passar de R$ 600 milhões.

São investigadas 37 empresas e os crimes de formação de cartel, corrupção, fraude em licitações, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, havia interesse de multinacionais em manter a direção do Into, em volta do qual criou-se o cartel para direcionar os vencedores e os valores a serem pagos nos contratos de fornecimento do Instituto.

O esquema duraria até hoje e não foi interrompido nem com a prisão de Iskin, Gustavo Estellita e do ex-secretário de Saúde do Rio Sérgio Côrtes.

G1 // AO