Quem ainda acha que o combate à corrupção poupa os tucanos (e, em contrapartida, persegue os petistas) precisa começar a rever sua lógica retorcida. Pelo menos três ações recentes atingiram o PSDB e feriram a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência.
A primeira foi a prisão do ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo, condenado em segunda instância a 20 anos de prisão por peculato e lavagem de dinheiro, no escândalo conhecido como “mensalão mineiro”. Para quem já esqueceu, a campanha à reeleição de Azeredo em 1998 foi um laboratório do publicitário Marcos Valério para desenvolver a tecnologia de desvio de dinheiro depois usada pelo PT.
A segunda são as duas prisões de Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, o ex-presidente da Dersa ligado ao senador José Serra e considerado uma espécie de operador do dinheiro sujo no partido.
Paulo Preto é investigado sob a acusação de comandar o desvio de dinheiro em obras do governo paulista nas gestões de Serra e Alckmin (Rodoanel Sul, avenida Jacu Pêssego e Nova Marginal Tietê). Preso em abril e maio, foi duas vezes solto por decisões do ministro Gilmar Mendes.
A terceira foi a operação Pedra no Caminho, deflagrada ontem pela Polícia Federal para prender suspeitos de desvio nas obras do trecho Norte do Rodoanel, entre eles outro ex-presidente da Dersa, Laurence Casagrande Lourenço, que renunciou ontem à presidência da Cesp.
O Ministério Público apurou superfaturamento de R$ 600 milhões nas obras, pagos às empreiteiras OAS e Mendes Júnior. Enquanto as acusações contra Paulo Preto se referem, em maior medida, a obras da gestão Serra, o Rodoanel Norte, cuja inauguração foi adiada de 2014 até 2019, foi concebido como vitrine da campanha de Alckmin ao Planalto.
Casagrande foi secretário dos Transportes dele e, em 17 anos de governos tucanos, passou por cargos na Segurança e na Fundação Casa. Não há como sua prisão deixar de afetar as pretensões presidenciais de Alckmin, que cambaleia nas pesquisas de opinião e tem dificuldade de se desvencilhar das acusações na delação da Odebrecht.
Pelo menos três delatores afirmaram ter pagado R$ 2 milhões à campanha de Alckmin ao governo paulista em 2010, por intermédio do cunhado dele, Adhemar Ribeiro. De acordo com o ex-diretor Carlos Armando Paschoal, o cartão de Adhemar foi-lhe entregue pelo próprio Alckmin, identificado como “Santo” no sistema de propinas mantido pela Odebrecht, depois de negociar os valores.
Alckmin naturalmente nega todas as acusações e, até agora, as investigações foram incapazes de produzir outras provas além das palavras dos delatores. Também tenta a todo o custo dissociar-se das estripulias de Paulo Preto. Ontem afirmou que a operação que prendeu Casagrande não terá efeito “nenhum” sobre sua campanha ao Planalto.
É verdade que o eleitor brasileiro tradicionalmente dá pouca importância a escândalos de corrupção na hora do voto. O maior exemplo disso é a reeleição de Lula depois do mensalão. Mas este ano pode ser diferente. Depois da Operação Lava Jato, a corrupção aparece em primeiro lugar em qualquer sondagem sobre as preocupações do eleitorado.
Com uma candidatura que enfrenta dificuldades de decolar por vários outros motivos (leia mais sobre o assunto aqui), tudo aquilo de que Alckmin não precisava neste momento era outra pedra em seu caminho.
O único benefício que as investidas contra os tucanos lhe trazem é servir de contra-argumento evidente à narrativa de que a Operação Lava Jato foi uma armação para perseguir o PT – propalada por intelectuais, artistas e ideólogos de toda sorte, a quem interessa preservar a imagem de pureza petista. Os fatos comprovam que a Justiça continua a agir de modo independente contra políticos de todos os partidos.
Isso não significa que seu funcionamento seja perfeito, em especial nos casos contra as autoridades que desfrutam foro privilegiado, como senadores, deputados, ministros e o próprio presidente Michel Temer.
Um exemplo eloquente foi a interrupção da ação contra outro tucano, o senador Aécio Neves, flagrado na conversa em que negociou R$ 2 milhões com o empresário Joesley Batista, depois entregues a seu primo – mas até agora incólume, graças ao voto de 44 senadores.
G1 // AO