O ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, disse em entrevista ao Estado e à Rádio Eldorado que não pretende defender o "legado" do presidente Michel Temer caso seja eleito. Alckmin afirmou também que não vai convidar o emedebista para ocupar cargo no governo nem dar indulto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
No campo econômico, o sr. prega a continuidade do governo Michel Temer?
Não. Acho que ninguém está discutindo legado, estamos discutindo o futuro. O governo atual tem um grande problema, que é a falta de legitimidade porque não teve voto. Na democracia tem que ter voto. A união entre o cidadão e o governo se dá pelo voto, por isso essa dificuldade enorme.
Se o sr. for eleito, vai dar indulto ao ex-presidente Lula e um cargo ao Michel Temer, como uma embaixada, por exemplo?
Não e não.
Aceitaria o apoio do MDB?
Não vou cometer a indelicadeza de levantar uma hipótese sendo que o MDB tem candidato, o dr. Henrique Meirelles. Estamos procurando o apoio de partidos que não têm candidato.
Mas vê com bons olhos o apoio do MDB com Temer no pacote?
Vocês querem saber se vou defender o legado Temer. Nós vamos olhar para o futuro.
Foi um erro do PSDB ter participado desse governo e ainda ter um ministro, o chanceler Aloysio Nunes?
Todo mundo critica o presidente Temer. Acho que em muita coisa a crítica é procedente. Mas a gente tem que entender que é um governo de transição. É diferente de um governo eleito. Padece de uma questão de legitimidade.
Mas foi um erro?
Quando começou o governo do presidente Temer eu fui da tese que devíamos apoiar todas as medidas que o Brasil precisa, mas sem participar de governo e ter ministério. Essa não foi a tese majoritária. O Aloysio ajuda o País, mas não representa o PSDB.
Vídeos divulgados na semana passada nas redes sociais mostram claques recebendo o sr. em aeroportos. É nova estratégia de campanha, no estilo Bolsonaro?
Fiquei muito feliz. Quem não gosta de carinho, de afeto? Isso aconteceu em Brasília e aqui em São Paulo também. Para mim a campanha começa mesmo depois das convenções, e não é apenas pela lei, mas pelo interesse maior da população.
Foi espontânea essa mobilização? Ou uma estratégia do partido para parecer que o senhor não está isolado?
A maioria das pessoas que estavam é militante do partido que eu não via há muito tempo e deu para matar a saudade.
O sr. tem sido alvo de fogo amigo dentro do PSDB? Há relatos que teria se irritado em jantar com aliados em Brasília…
Não tem nenhuma irritação, pelo contrário, temos recebido grande apoio do partido. O que se pode fazer é olhar o copo meio cheio, meio vazio. Dos candidatos mais ao centro, que são dez praticamente, eu tenho a melhor posição. Está todo mundo com 1%, no máximo chega a 4% e eu vou de 7% a 11%. Agora, está muito fragmentado. Precisa diminuir o número de pré-candidatos, o que eu acho que vai acontecer lá no final de julho.
Qual a prioridade na formação de alianças? Cogita fazer aliança com Marina Silva, por exemplo, como o ex-presidente Fernando Henrique teria sugerido?
Olha, seria indelicado com a Marina especular qualquer aliança na medida em que ela é pré-candidata, já foi candidata a presidente da República e acredito que vá ser candidata. Agora conversar é sempre bom. O presidente Fernando Henrique tem nos ajudado muito, é um homem do diálogo, das pontes.
A que o sr. atribui esse patamar baixo nas pesquisas?
Não me preocupa muito essa coisa de pesquisa nesse momento. A maioria das pessoas ainda acha que eu sou governador de São Paulo. A informação demora.
Uma articulação, com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique, tenta unificar todas as candidaturas do centro em uma só. O sr. está disposto a abrir mão?
Eu gostei desse documento, acho que precisamos estar próximos daqueles que prezam, acreditam na democracia conquistada a duras penas. Agora, todos vão abrir mão para um só ser candidato? Acho que não.
Então não abre mão da candidatura?
Não há nenhuma razão para abrir mão. As pessoas querem decidir a eleição sem ter havido campanha.
Jair Bolsonaro está empatado com o sr. em São Paulo, Estado que o sr. governou por mais de 13 anos. Como explica isso?
Olha, aqui (em São Paulo) nós vamos ganhar a eleição, estou garantindo, e com larga margem. A pesquisa, neste momento, não é de intenção de voto. Mais de 60% das pessoas dizem não ter candidato. E eu não vou fazer campanha contra candidato A, B ou C.
O sr. diz que não faz campanha contra, mas posts nas suas redes sociais são contrárias a ele, o que parece estratégia de campanha de polarizar com Bolsonaro.
O que eu falei é que os extremos às vezes se atraem. Se você for verificar os votos, o Bolsonaro, que é deputado pela oitava vez acho, vota igualzinho ao PT. É aquele voto corporativo, atrasado.
O sr. acha mais importante disputar o antipetismo com o Bolsonaro ou manter pontes com o PT para enfrentá-lo no 2º turno?
O que pretendo é percorrer o Brasil levando uma mensagem de esperança para a população, explicando o que nós já fizemos, porque tem muita gente prometendo mundos e fundos e não entregou nada.
O antipetismo não está no seu radar?
Não, nós vamos levar esperança para o Brasil.
O sr. acredita ainda na polarização PT e PSDB?
Acho que o PT, independentemente de quem seja, terá um candidato competitivo.
O sr. vai ter que se explicar na campanha sobre a investigação que envolve seu cunhado, Ademar Ribeiro, citado por delatores da Odebrecht como o homem que recebeu caixa 2 para a sua campanha de 2010. O sr. defende que esse caso seja investigado na Justiça Eleitoral, mas por que, se diz que ele não tinha função na sua campanha?
Isso não existe. As minhas campanhas, em primeiro lugar, sempre foram modestas e, segundo, sempre rigorosamente dentro da lei. Faz um ano e meio que ouço isso e até agora não houve nenhum fato. Ninguém está acima da lei, tem denúncia, por mais estapafúrdia que existe, investigue-se. Já prestei esclarecimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. // AO